segunda-feira, julho 31, 2006

Canaã

Quero apenas dizer que estou cansado da guerra. Que não concordo nem consigo concordar com nenhum dos lados. Não há vítimas nem carrascos, embora uns possam ser mais uma coisa que outros. Estou triste. Cansado, até. Apetece-me chorar por todos os homens e mulheres que dão a cara pelos países poderosos e nunca derramam uma lágrima. No fundo, nada disto lhes diz respeito. Não interessa que morram dois ou três inocentes. Mente-se em nome do politicamente correcto. Fingem-se sentimentos. É verdade que ninguém pode ficar alheio às imagens de crianças mortas seguras e transportadas nos braços das equipas de resgate e de civis que se juntam para ajudar. Tudo isto é verdade. Mas a política parece não se compadecer com a fragilidade e com a sensibilidade humanas. Não entendo a política e não a quero. Não gosto da direita e não gosto da esquerda. Não concordo com uns nem com outros, parecem-me tão iguais em tudo e no entanto tão diferentes. Sei-os capazes das mesmas coisas. Das mortes. Dos sacrifícios sempre de uns em prol de não sei bem o quê para os outros. Porque não é possível simplesmente a pluralidade sem mais nada? Porque não é possível uma democracia a sério, sem direitas nem esquerdas, apenas uma coisa quase amorfa mas competente e eficaz, que não preconizasse ideias nem ideais, mas simplesmente cumprisse as suas funções governativas? Não sou a favor dos sacrifícios de ninguém e das coisas que lhes são queridas em favor do bem estar de outros. Creio haver lugar para tudo e para todos, sem ser necessário cortar os braços e as pernas a uns, sejam eles quais forem. Estou farto da política e das guerras. Estou farto das conversas de café, longe dos sítios onde as bombas caem, culpando uns e outros, opinando como se tudo aquilo lhes dissesse tanto respeito, mas, no fundo, falando das coisas sem respeito nenhum, apenas raiva e ódio. Semelhantes em tudo àquilo que recriminam nesses que produzem a guerra, no seu discurso aguerrido.
Estou farto da auto-comiseração de Israel e da sua "tarefa bíblica" de proteger o seu povo segundo as moderníssimas Leis de Talião - olho por olho, dente por dente, embora me pareça mais que seja olho por dente e cabeça por olho. É óbvio que a comunidade internacional lhes reconhece tempos difícieis na altura do Holocausto, mas esses tempos já lá vão, há que seguir em frente, e não entrar em megalomanias de conquista desenfreada de território que não é o seu. Estou farto da ameaça árabe com a qual não concordo. Estou farto, porque concordo com eles e com as suas posições, mas abomino a forma como respondem às agressãoes que lhes são feitas. Dir-me-ão que desconheço a conjuntura política e os detalhes das coisas como realmente são. Será talvez verdade, mas falo por mim, enquanto indíviduo singular, e não enquanto analista político-económico de renome. Todas estas coisas me cansam. O lado de uns e o lado de outros. A haver pressões, a haver resoluções, que as haja para ambos os lados, e não só para um.
Eu não sei mais o que dizer. Queria escrever um texto sobre os bombardeamentos israelitas sobre Canaã e saiu-me um texto completamente diferente, mas deixá-lo-ei como está, sem emendas, sem correcções. No fundo, são as minhas ideias e são as minhas lágrimas e o meu cansaço e o meu desespero e o meu cada vez maior descrédito pela política e pelas ideologias de fanatismo e de patriotismo...

E por aqui me fico.

domingo, julho 02, 2006

Wii não vai ser consola de próxima geração

Satoru Iwata, presidente da Nintendo, deu há tempos uma entrevista em que afirma que a próxima consola que vão fabricar, a Wii (anteriormente conhecida pelo nome de código "Revolution"), "não faz parte das consolas de próxima geração". Iwata diz que, se o que é considerado consola de próxima geração é a PlayStation3 e a XBox 360, então, a Wii não pode ser considerada consola de próxima geração, pois não se trata apenas de "uma versão aumentada da GameCube [a consola da Nintendo da geração actual]".
Claro que este discurso tem sido usado pela concorrência (maioritariamente pelos fanáticos da Sony) para denegrir a Wii e a política da Nintendo em geral, alegando que a Wii não competirá directamente com as outras duas por não ter nem perto das características técnicas que estas têm (ou terão, no caso da PS3, ainda para ser lançada), nem as folhas de características enchem páginas e páginas de números que não interessam ao diabo, como as outras duas fazem. Eu, pessoalmente, discordo. Creio que o que Satoru Iwata queria dizer era que a Wii, se as outras duas consolas são apenas, respectivamente, versões aumentadas das actuais PS2 e XBox, então, que se apresenta completamente diferente em todos os aspectos, não se pode meter no mesmo saco da suposta "próxima geração" de consolas. Pode não ser uma actualização gráfica e técnica/tecnológica, mas é uma actualização a todos os outros níveis pensados e imaginados. E enquanto a PS3 e a XBox 360 oferecerão jogos "de próxima geração" aos jogadores (ou seja, jogos que são os mesmos blockbusters e jogos comerciais sem sentido nenhum, apenas violência à discrição e muito sangue na imagem, que vendem nos dias de hoje, mas com gráficos melhorados), a Wii oferecerá toda uma nova abordagem aos jogos de vídeo, permitindo aos jogadores uma interface fácil e intuitiva, e compensando a falta de características técnicas com jogos criativos e originais e sobretudo um comando que permite uma interacção com os jogos até por aqueles que habitualmente nunca gostaram de jogar jogos de vídeo. Afinal, quem é que não pega num comando de televisão e o abana? Praticamente o comando da Wii (já apelidado de "wii-mote") é isso mesmo: um comando de televisão, à distância, sem fios, que se move com a mão e os resultados se vêem no ecrã. Qualquer um pega no comando e joga. E apelará também aos fãs old school do retro-gaming, permitindo fazer o download legal de títulos lançados para todas as consolas da Nintendo desde há quase 25 anos para cá. Por isso, entenda-se o cinismo e a ironia de Satoru Iwata no seu comentário. Ele não está a denegrir a Wii, embora também não esteja a denegrir nenhuma das outras, também: apenas demarca os diferentes terrenos, as diferentes noções, os diferentes conceitos do que será a verdadeira próxima geração de jogos de vídeo. E, claro, goza um pouco com a expectativa demasiado exagerada em torno da "Super" PlayStation3.
No fundo, entre os 500 a 700 euros de uma PS3 e os cerca de 150-200 euros de uma Wii, a escolha não será muito difícil, tendo em conta que a primeira é apenas uma PS2 com mais poder técnico, e a segunda é toda uma nova abordagem aos jogos de vídeo como os conhecemos.

(este artigo, não tendo qualquer tipo de interesse, fica aqui porque quero acabar de uma vez por todas com as discussões estúpidas dos artigos abaixo e, não me sentindo no direito de apagar o que as pessoas disseram, mas também não querendo eliminar os artigos e não tendo, ainda, nada de mais interessante para escrever, vai um artigo sobre a única coisa que no desterro das aulas ainda consigo ir sabendo)