segunda-feira, dezembro 29, 2008

A ser forjada mentalmente

Tenho estado parado demasiado tempo, e não me refiro a empregos, essas coisas só servem para subsistir fisicamente, aparentemente, e não contam, portanto, decidi mexer-me dentro de uma coisa que me interesse, que faça sentido, e tentarei, dê por onde der, criar uma espécie de revista literária, em princípio qualquer coisa trimestral associada à zona onde moro (Litoral Oeste - Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche e, enfim, em parte, Alcobaça), mas que, obviamente, poderá evoluir para qualquer coisa mais, sendo, de resto, essa, a intenção.

A verdade é que me tenho envolvido sempre em coisas que não frutificaram por variados motivos, desde os tempos do APRE (Ajuntamento de Pré-Homens Relativamente Escrotos) e do Ossa et Cinera, ambos projectos que não deram em (quase) nada, passando pel'A Caixa e pela Linha Férrea, comunidades que, em certos aspectos, continuam "vivas", não fora o facto de já nenhum de nós, seus participantes, irmos dando azo a essa designação, uma vez que existimos, mas não participamos, e acabando em coisas de minha própria lavra, como o conFusão, blog no qual acaba por acontecer o mesmo que em todos os outros. Está tudo morto e desinteressado, é certo que comecei a ver as pessoas desinteressar-se e não fiz nada, porque não me sinto no "direito" de fazer nada, mas agora entristece-me ver o estado das coisas, é só isso que constato, sem ilacções nem acusações nem nada.

Basicamente, quero perguntar aos visitantes deste blog (partindo do princípio que ainda os há) se estão interessados em contribuir com textos de variada índole e estilo, tornando-se colaboradores deste projecto. O que acontece é que preciso de pessoas disponíveis e interessadas a 100%, pois não quero que aconteça o mesmo que em todos os outros... isto é, pessoas dispostas a trabalhar e a produzir regularmente, a manter contacto, a querer saber e discutir e pensar em conjunto tudo isto, porque a minha ideia não é, de todo, que isto seja uma coisa minha, mas sim uma coisa nossa, acarinhada e acalentada por todos quantos nela quiserem tomar parte.

Podem-me contactar pelo meu e-mail, groze@sapo.pt (não é mail do messenger, é só mesmo para receber correio electrónico), os que me tiverem nas suas listas de contactos do messenger, digam-me qualquer coisa lá, ou, então, deixem um comentário a este texto com alguma forma de contacto para podermos discutir este assunto com mais tempo e clareza.

Desde já, um enorme abraço a todos.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Tempus Fugit

O tempo rodeia-me com as suas florestas,
os seus atalhos, os seus rios de instantes
brancos como as pupilas dos deuses.
Mas empurro-o: como se me obedecesse.
O tempo trata-nos como se fôssemos
animais de carga, casas desabitadas,
rochedos expostos num litoral de inverno.
São visíveis as suas marcas,
e ele obstina-se nesse trabalho como se fosse
uma arte, um exercício de gosto.
Cinzelador de imperfeição, raptor
do presente: quem poderá fugir
às suas mãos? Então, lembro-me de ti.
O verão batia nos toldos, fazia brilhar
as pedras, arrancava a luz aos tampos
das mesas. Ambos, fazíamos com que o tempo
não existisse; e o vento ajudava-nos,
não deixava que se aproximasse,
fazia com que entre nós e ele
batessem as folhas dos arbustos, como
grandes espantalhos verdes. De que serviu,
tudo isso? A tarde avançou por dentro de nós;
não sei onde estás; ouço, de quando em quando,
alguém dizer o teu nome: e não sei
se, hoje, reconheceria o teu rosto,
se me cruzasse contigo nalgum lado. É
o tempo. Como sair da floresta?, pergunto.
Como se houvesse resposta para todas as perguntas.

Nuno Júdice, in A Fonte da Vida, Lisboa, Quetzal, 1997

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Próxima sessão de cinema no CCC:



Belleville Rendez-Vous/Les Triplettes de Belleville, um filme de animação para crianças e menos-crianças (mais, até, para menos crianças, a menos que se queira que as benditas criaturinhas fiquem com medo de fazer anos e ter uma festa de aniversário, ou que passem a temer ursos de peluche e balões), depois do documentário desta passada Segunda, O Pesadelo de Darwin, que, pelos vistos, suscitou muita saída a meio. Ah, é verdade... ver documentários está in.

terça-feira, dezembro 16, 2008

O Corpo Espacejado

Perdia-se-lhe o corpo no deserto, que dentro dele aos poucos conquistava um espaço cada vez maior, novos contornos, novas posições, e lhe envolvia os órgãos que, isolados nas areias, adquiriam uma reverberação particular. Ia-se de dia para dia espacejando. As várias partes de que só por abstracção se chegava à noção de um todo começavam a afastar-se umas das outras, de forma que entre elas não tardou que espumejassem as marés e a própria via-láctea principiasse a abrir caminho. A sua carne exercia aliás uma enigmática atracção sobre as estrelas, que em breve conseguiu assimilar, exibindo-as, aos olhos de quem o não soubesse, como luminosas cicatrizes cujo brilho, transmutado em sangue, lentamente se esvaía. Ele mais não era, nessas ocasiões, do que um morrão, nas cinzas do qual, quase imperceptível, se podia no entanto detectar ainda a palpitação das vísceras, que a mais pequena alteração na direcção do vento era capaz de pôr de novo a funcionar. Resolveu então plastificar-se. Principiou pelas extremidades, pelos dedos das mãos e pelos pés, mas passado pouco tempo eram já os pulmões, os intestinos e o coração o que minuciosamente ele embrulhava em celofane, contra o qual as ondas produziam um ruído
aterrador.

Luís Miguel Nava, in O Céu Sob As Entranhas, Porto, Limiar, 1989

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Music for Modern Dance


Menomena - Water

São 18 minutos que vos peço para aguentar, vá lá...

I

(...)

Mas:
depois que tudo
depois que tudo recebeu o nome de Luz ou de Noite
quer dizer: depois de teres partido
depois dessa revelação - cicatriz que reabriu
- não vejo nada
A cegueira invadiu-me quero a distorção
quero bater com a cabeça contra o céu
quero estar bêbado como nunca antes estive
quero que as lágrimas se confundam com a chuva
que à minha volta desastres tenham lugar
aviões caiam automóveis batam uns nos outros
em grande velocidade
que se solte o mal por todo o lado
e que à noite todos possam temer
o seu vizinho e o seu próximo.
Quero que o homem olhe suspeitoso para a mulher
e que a ambos os filhos vejam receosos
quero que o passeante de jardim se petrifique de medo
que diante de cada árvore suspeite
um vulto de agressão
que os ladrões e os assassinos saiam
dos lugares em que se escondem
quero que invadam as ruas como pragas
que cada um tema diante do outro
a sua própria sombra
e que na orla da noite todos cheguem a duvidar
até de si mesmos.
Que o meu corpo se faça espasmo
compulsivo grito
quero que isto se saiba:
olha: os pulsos abertos
o sangue que escorre
a boca
os dentes cerrados e que espumam
os olhos que se apertam e só procuram a obscuridade.
Disse:
depois que tudo recebeu o nome de Luz ou de Noite,
- porque assim?

Bernardo Pinto de Almeida, in Depois que Tudo recebeu o nome de Luz ou de Noite, Porto, ASA Editores II, 2002

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Nota

Não sei se lamente, se, de certo modo, me congratule com isso, mas quase todos os livros que tenho são editados pela Assírio & Alvim, como é notório através dos poemas e textos vários que tenho vindo a colocar neste blog. Acho que, enfim, em última anáslise, devo à Assírio & Alvim um profundo agradecimento pel'O Livro do Desassossego, pela Obra Breve, da Fiama Hasse Pais Brandão, pelo Mário Cesariny, pelo Tolentino Mendonça, pelo Beckett, sei lá... devo-lhes muitas das melhores coisas que tenho lido.

E lamento apenas os visitantes deste blog que me vêm com frases do género "mas, oh, Pedro, tu tens alguma obsessão com a Assírio & Alvim?" Enquanto eles editarem os autores de qualidade, que editam, sim, tenho.

o artesão

O ar tesão (nato) é o ar do artesão quando em artesanato assim como o sol dado é o ar do soldado quando em ar tesão.

Lit. - «não havia braço são que pudesse romper o tesão da água», Dic. de Marinha, 505. «Correm as águas como sangue», id.

Mário Cesariny, in Manual de Prestidigitação, Lisboa, Assírio & Alvim, 2005 (primeira edição 1981)

Uma coisa a menos para adorar

Já vi matar um homem
é terrível a desolação que um corpo deixa
sobre a terra
uma coisa a menos para adorar
quando tudo se apaga
as paisagens descobrem-se perdidas
irreconciliáveis

entendes por isso o meu pânico
nessas noites em que volto sem razão nenhuma
a correr pelo pontão de madeira
onde um homem foi morto

arranco como os atletas ao som de um disparo seco
mas sou apenas alguém que de noite
grita pela casa

há quem diga
a vida é um pau de fósforo
escasso demais
para o milagre do fogo

hoje estive tão triste
que ardi centenas de fósforos
pela tarde fora
enquanto pensava no homem que vi matar
e de quem não soube nunca nada
nem o nome

José Tolentino Mendonça, in Baldios, A Noite Abre Meus Olhos, Lisboa, Assírio & Alvim, 2006

quinta-feira, dezembro 11, 2008

segunda-feira, dezembro 08, 2008

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Para um Amigo


Brainiac - Fucking with the Altimiter

Esta música é para o João (0, icaruh, etc.), por todas as saudades acumuladas. A ver se um destes dias arranjo tempo e dinheiro para te ir visitar. Um Abraço!

terça-feira, dezembro 02, 2008

Uma das muito poucas coisas que gosto nos Radiohead

é o facto de a Paranoid Android fechar um dos melhores animes que já vi, Ergo Proxy:




e, já agora, deixo um episódio, para quem quiser... "perder tempo": aqui. (Clique-se na palavrinha sublinhada, ok? É esse o princípio dos links.)

segunda-feira, dezembro 01, 2008