quinta-feira, julho 29, 2010

a propósito da amizade que retribuo, ou não

tenho de pedir desculpa a alguns amigos. tenho mesmo. mas é que também não tenho realmente paciência para os aturar todas as noites, quando todas as noites estou mal por causa da(s) mesma(s) coisa(s)... e é chato, é mesmo muito chato, muito irritante, mesmo, não poder falar disto com ninguém e ter de estar mal para eles, não aguentar uma noite inteira a ouvir pessoas a assobiar ao meu lado, a falar de banalidades, com o nobre e despretensioso objectivo de me distrairem... essas coisas nunca funcionaram comigo, esses intuitos de "puxar para cima". quando estou mal, estou mal, não estou mal a querer fingir que estou bem. e, sim, quero estar com pessoas, mas pessoas que até me podem ignorar, só não quero estar ali fisicamente sozinho, não gosto mesmo que digam piadas para me animar, isso só me deixa pior, porque não consigo rir, e dói-me ainda mais quando me apercebo disso. quero uma pequena bolsa de depressão e angústia partilhadas, à minha volta, é isso que quero; quero os meus amigos bem, mas a deixarem-me estar mal, a perceberem que é mesmo assim que estou, por mais que queira tê-los ali à minha beira.

de novo, desculpem-me. a sério...

terça-feira, julho 27, 2010

à falta de outro sítio onde pôr isto

por favor não te vás embora de encontro aos becos levando uma mulher pela mão. por favor, fica comigo, tenho frio, tenho uma flor de lótus, o coração a rebentar-me nas mãos como se idêntico a uma flor de lótus atrasada, a ter de morrer por causa de uma idiossincracia anacrónica, como se existisse mas não devesse existir.
come lá o meu coração e eu poderei imaginar uma imagem bíblica para isso.

segunda-feira, julho 26, 2010

adenda

(É tão possível que esteja - que seja - errado. Mas tudo o que digo, digo-o porque o sinto. E essa é a maior verdade que posso dar a quem me conhece, a quem me ouve, a quem me lê.)

domingo, julho 25, 2010

monólogo a pedido

Tenho uma pessoa muito especial (se não a pessoa mais especial) que me pediu isto: que escrevesse no meu blog sobre as minhas teorias ou sobre literatura. Ao certo, sobre o quê? As minhas teorias são desconexas e não fazem sentido, sem ser para mim. Nem sequer posso dizer, em boa verdade, que tenho teorias.
As minhas teorias são numa veia de "anti-teoria", isto é, abomino quem pensa por todos, quem presume e pretende e deseja pensar por todos, oferecer uma verdade universal embrulhada em boas intenções e um intuito qualquer de evolução mental. A única teoria, que tenho, ou, pelo menos, a única que sigo, é a de que devemos ser o que somos, que devemos parar de tentar explicar o que sentimos às luzes tão desfocadas de um conhecimento científico e psicológico/psiquiátrico, tudo sempre sendo refutado dia após dia. Somos só um composto de coisas, depende de nós se lhes queremos chamar doenças ou cartilagens ou nervos, se lhes chamamos alma, genuidade, características, carácter, ser, propriedade. Somos isto: existimos, sentimos. O que somos é, em última análise, o que sentimos, somos todos muito egoístas, a esconder isso porque a sociedade ocidental milenar e patriarcal e judaico-cristã e platónica e socrática nos ensina: "o egoísmo é mau". E talvez seja, mas, vistas bem as coisas, somos todos egoístas. A pedir que nos deixem em paz, a não saber deixar os outros em paz, numa demanda quase absurda, de impossível, em busca da nossa própria felicidade e auto-preservação. Mantemos um altruísmo de causas sociais, de abnegação, para esconder um egoísmo último que carregamos cá dentro. E somos altruístas porque alguém nos prometeu o céu ou uma recompensa por esse altruísmo.
Se a nossa genuidade é a única coisa que temos, e a nossa genuidade e a nossa integridade comportam um egoísmo, porque não assumir esse mesmo comportamento? Porque, depois, enfim, recebemos o comportamento de volta. Só recebemos o que damos. Pedimos muito e às vezes não damos nada, portanto, ninguém nos devolve o que não demos. Não há o que devolver. Mas devíamos, ao menos, assumir o nosso egocentrismo inerente a ser humano. A nossa necessidade de ser, de ser tudo, de ser o centro de tudo. Preservamo-nos, apesar de tudo, e vamos desaprendendo uma inocência infantil que nos deixava, enfim, vulneráveis às armadilhas de viver: ao amor, à entrega, ao compromisso, à responsabilidade. E a vida deixa de ter piada, porque complicamos as coisas que à partida seriam simples. O amor, no seu estado puro, é simples. Mas nós não aguentamos. Não aguentamos, porque complicamos. Não nos basta sentir, temos que explicar, temos que sobreviver, que decidir que o amor não chega, que já não somos crianças, que o mundo não é um lugar para crianças.

Enquanto eu for uma criança o mundo há-de ter que ter um espaço para mim, dê lá por onde der.

sexta-feira, julho 16, 2010

\m/_



Queens of the Stone Age - In My Head

quarta-feira, julho 14, 2010

Linoleum and Love

They were older then, like their kitchen floor,
linoleum and love worn together more
by each treading heart. They were never sure:
had they found happiness, or simply a way to endure?

My grandfather’s faithfulness was tough and taciturn.
Builder and fisherman, he did not learn
patience, except for fish. He’s hook his fingers in the air,
alive with cigarettes, and catch its burning as ashes in his hair.

His eyes were full of stories we never dared
disbelieve. Looking back, I think he cared,
at least as best he could,
his hands hard with working over water and wood.

Every time we visited, my grandmother gave
us scraps. “For the dogs,” she’d say.
Staying in love; knowing how to save,
make a little go a long way.

Such a brave economy of emotion.
it was the best lesson my grandmother taught,
something we might lean on,
knowing how she’d fought

her way into believing. Her rough
knuckled rosary, her tea-towel with its thin-skinned pride,
had to be, for her, hope enough
until at last: a knocking at the door, a veil drawn aside.


Noel Rowe, Next to Nothing, Vagabond Press, Sydney, 2004

sábado, julho 10, 2010

cede-se

vida. a quem quer que seja que a queira vir buscar.