domingo, novembro 14, 2010

grão-de-bico

uma bolsinha numa gaveta não é apenas uma bolsinha numa gaveta, nem um tupperware com massa no frigorífico se resume apenas a isso, ou um cheiro ou uma mancha num lençol, ou vagas memórias de corpos a amarem-se num colchão estreito, no chão mal envernizado da sala; nem tampouco o caminho de todos os dias é o caminho de todos os dias, passando pelos cafés e pela estação dos comboios, se sei que tocámos em tudo isso e aí permanecemos numa eternidade de sentidos, só que, agora, isso acabou-se e o que resta são só fragmentos de memórias, como estilhaços de espelhos.

e tudo aguça uma dor imensa que não se cala, mesmo que eu queira.

sexta-feira, novembro 12, 2010

apneia para uma barracuda




daqui a uns anos, quando talvez te souber com outra pessoa, é possível que queira desaparecer ainda mais do que já quero hoje, só que vivemos em sociedade e, se queremos parecer sãos, não podemos estar magoados nunca. e talvez tenha de fingir coisas falsas. mas o meu coração há-de estar morto à mesma, digo eu, para todos os que estiverem para aí e que factualmente acreditem na verdade absoluta e concreta destas coisas do amor.

terça-feira, novembro 09, 2010

à minha querida Oliveira Martins (de facto querida, sem ironias)

Não é que discorde de tudo o que é dito nas aulas da professora (doutora, para quem fizer mesmo muita questão) Isabel Oliveira Martins, mas, enfim, há uma coisa que me irrita bastante, quando fala dos "cowboys", com toda a propriedade, é certo, que é pôr-se a falar do Clint Eastwood e do Lucky Luke como imagens míticas do oeste selvagem. Até aqui, tudo bem, são-no, de facto... agora, convém esclarecer uma coisa: são imagens míticas do oeste americano, sim, mas criadas e popularizadas por europeus. Se quiser referir-se a John Wayne, concordo plenamente, ou, enfim, aos filmes do velho oeste de, por exemplo, Sam Peckinpah, sim, tudo bem... mas falar sempre do Clint Eastwood e do Lucky Luke, não, a sério.
Também é verdade que o Clint Eastwood fez uns westerns dele mesmo, e poder-se-ia argumentar que esses filmes são "americanos", mas passa-se que o próprio Eastwood alega ter tirado toda a inspiração, para os filmes, do que aprendeu com Sergio Leone. E Leone, isto é bom que se saiba, dizia que queria mesmo "europeízar" os westerns, quase num acto de vingança contra a indústria cinematográfica norte-americana, por terem "americanizado" imagética clássica europeia nos filmes.
Já Lucky Luke trata-se de uma personagem de banda-desenhada franco-belga, criada pelo belga Morris (Maurice de Bevere, para quem estiver interessado) que, embora pegando nalgumas imagens tiradas dos filmes clássicos norte-americanos, nomeadamente a do cowboy/pistoleiro solitário, que parte, no fim de cada aventura, em direcção ao pôr-do-sol, assobiando uma melodia, montado no seu cavalo, tem muito pouco de americano... são notórios o humor e sarcasmo próprios da banda-desenhada europeia, particularmente a franco-belga, que estão longe de caracterizar os cowboys típicos dos westerns tradicionais.
Portanto, o meu ponto de vista é apenas o de que falar destas duas personagens (Clint Eastwood, aqui, como personagem, claramente tirada da trilogia italiana que o popularizou, mais do que os seus próprios filmes, anos mais tarde) é errado, porque isso não retrata a visão norte-americana deles mesmos. E digo-o aqui porque, enfim, nunca tenho oportunidade para o fazer nas aulas, e já venho com esta vontade entalada há uns semestres valentes.