terça-feira, junho 21, 2005

Porque somos pessoas abertas em relação à sexualidade.

Somos pessoas abertas em relação à sexualidade porque, quando éramos pequenos, víamos a Rua Sésamo. Pois é. Em relação à sexualidade, e não só. Ao mundo, em geral. Convenhamos que a equipa do senhor Jim Henson fez um trabalho brilhante na nossa educação. Não interessa para o caso o número incontável de pessoas fascinantes que foram iniciar o seu percurso escolar já sabendo ler e contar graças ao Poupas e ao Gualter, ao Conde de Kontarr e ao Ferrão, ao Egas e ao Becas, ao Simão e ao Monstro das Bolachas, ao André e à Avó Chica, à Guiomar e à Gata Tita! Nada disso! O que importa é o contexto social que estava subliminarmente a ser veiculado ali... somos pessoas que aprenderam a respeitar os homossexuais, e isto, porquê? Porque tínhamos como cicerone do dito programa uma galinha enorme, de voz efeminada, todo ele cor de laranja (na versão portuguesa, claro está), com uma crista colorida a fazer lembrar as sul-americanas aves-do-paraíso, com um corpo descomunal e ainda por cima em forma de pêra! O que é isto? Isto era para que aceitássemos as diferenças de cada um, apesar da sua inclinação sexual, pois claro. Toda a gente sabe que o Poupas não era heterossexual, caramba! Pelo menos, seria bi.
É óbvio que não se ficavam por aqui. De seguida, éramos confrontados com o Egas e o Becas, homenzinhos emancipados, que, apesar da sua idade adulta (uma vez que viviam sozinhos, presumo que fossem adultos...), estavam em permanente contacto com o seu lado infantil, sendo que tinham sempre inúmeras brincadeiras para realizar dentro de sua habitação, quando chovia. Isto não é para qualquer um! E estar em contacto com o lado feminino? Eles estavam! Tomavam banho com patinhos de borracha e usavam camisolas de lã o ano inteiro, sempre com o mesmo padrão às riscas, denunciando uma inclinação sexual diferente do que é preconizado pela sociedade. E não tinham vergonha de o assumir, irra! Eram gays, sim, mas assumiam um posto de utilidade na sociedade, ou pelo menos no micro-clima social recriado na Rua Sésamo! E, depois, entenda-se, falamos de dois indivíduos caucasianos (tirando o Egas, que com aquela tez alaranjada poderia ser negro, não entendemos muito bem qual a intenção), com sweatshirts às riscas, que vivem em conjunto no prédio 123 da Rua Sésamo... vivem em conjunto, assumindo no seio daquela sociedade uma relação que, não sendo claramente de homossexualidade, seria pelo menos uma situação ambígua, que deixava aos co-habitantes do bairro a nítida sensação de que algo se passava, para além da partilha de alimentos na creche. Havia também uma partilha de corpos, isso é certo. Aquela sobrancelha única do Becas não enganava ninguém.
Outra questão, não menos pertinente, era o exemplo português do Ferrão, que nada mais era do que o típico homem viril, confinado a um barril (aqui se vê também o contexto social português, sendo que na versão norte-americana o Oscar, primo do Ferrão, pelo menos em parecença e em virilidade, habitava num caixote do lixo, e não num barril que apodrece com o tempo, largado numa esquina, a criar bichos e sujidade, sem que os serviços sanitários dele se desfaçam), mas o homem viril que assume, apesar dessa sua condição de macho pulsante de testosterona, a vertente do auto-prazer anal assumido. Note-se: Ferrão, na pequena estufa recriada no seu barril, lugar onde cultivava montes de vegetais, assumindo, assim, uma posição autónoma na vida, de quem não necessitava da figura do outro para subsistir, não, Ferrão possuía os meios de sobrevivência todos no interior do seu barril, víveres inclusos! Isto nada tem a ver com o auto-prazer anal, claro; contudo, uma das espécies vegetais que Ferrão criava e cuidava no seu micro-mundo vegetal, era, nem mais nem menos, o agripino, tratado tantas vezes a nível de personagem. Ora, o que era o agripino, senão um dildo? Claramente, Ferrão usava o agripino com fins masturbatórios, assumindo, deste modo, uma quebra de tabu quanto ao homem que se quer, e perdoem-me o popularismo retrógrado, "virgem de cu". Nada disso. Ferrão assumia que se masturbava analmente. Era um homem completo, em todos os sentidos, não escondendo também a sua antipatia, à qual tinha também direito. Ferrão era uma personagem complexa. Uma pérola de sabedoria, no ecossistema da Rua Sésamo.
Havendo muito mais a tratar, despeço-me por enquanto no que concerne este tema polémico ou nem tanto, prometendo uma continuação no próximo post.

quarta-feira, junho 15, 2005

Eles não me deixam instalar o Netscape

Na sala dos computadores da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sita na Avenida de Berna, defronte da Igreja de Fátima, os senhores garbosos do departamento de informática usam rede Linux, mas não permitem a instalação de outro browser que só este desenrascanço do Internet Explorer. Eu não gosto do Explorer e quero instalar o Netscape.

Também não quero ir embora hoje. Não quero ficar sozinho tantos dias durante tanto tempo - não porque não goste da minha companhia, entenda-se, mas apenas porque não quero deixar outra Pessoa também Ela sozinha.

(Às pessoas que aqui vêm e gostam de alguns textos, mas não de todos, saiba-se que tenho outros dois blogs, com textos provavelmente mais do interesse e agrado geral. http://lonelygigolo.blogdrive.com e http://exanimatus.blogdrive.com que podem visitar. Pronto. Este espaço pretende-se mais outra coisa que nem sei bem o quê...)

sexta-feira, junho 03, 2005

Praia jeitosa

Não creio que alguma vez tivesse tido medo de ficar sozinho mas agora olho para mim e estou um pouco assustado. Porque há demasiada gente demasiado perfeita à minha volta.

E nunca serei como eles.

E nunca serei uma pessoa normal. E nem sequer quero entrar em discussões sobre o que é ou deixa de ser normal... sei lá.

E nunca gostarei do verão e da praia e outra coisa que me irrita é a alegriazinha nas pessoas. Em todas
as
pessoas.
Cultivo assim uma hortazinha de ódio universal.