terça-feira, setembro 20, 2011

Dever/Haver



No próximo Sábado, pelas 18:30, na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, Lisboa (na zona de Santos), lançamento do livro Dever/Haver, de João Silveira.

segunda-feira, setembro 05, 2011

convite!



No próximo Sábado, dia 10 de Setembro, será lançado o meu primeiro livro (excluindo a edição online de para um frigoríco e uma bateria de carro abandonados, ed. Lulu.com), intitulado O Comportamento das Paisagens, pelas edições Artefacto, no Palácio de Laguares (Campolide). O evento terá início às 18:30, contando com apresentação do Professor Doutor Fernando Pinto do Amaral, do editor Paulo Tavares e do autor (eu próprio), leitura de poemas por Cláudio Rodrigues, momentos musicais a cargo de Nelson Luis Ribeiro, no clarinete, e Tomás Quitério, no piano, e será também palco de uma exposição de Maria João Lopes Fernandes, ilustradora da capa do livro.
Uma vez que o lançamento do livro está incluído nas comemorações dos 126 anos da Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul (de quem a Artefacto é a vertente editorial), só as pessoas que apresentarem o convite colocado seguidamente poderão entrar de forma gratuita.

Convite a ser imprimido pelas pessoas interessadas e apresentado à entrada do evento, para entrada grátis. Clicando na imagem em thumbnail aqui presente, podem ter acesso à resolução original, mais adequada à impressão.

Agradeço, antes de mais, a todos os que estiverem interessados em ir, aos que possam deslocar-se, sim, mas também àqueles que, por variadas razões, gostariam de estar presentes e não podem. Sentirei o vosso apoio, carinho e amizade na mesma e terei, nalguns casos, livros para grande parte de vós.
Fica, pois, o convite genuino e fraterno a todos os que queiram e se possam deslocar para uma tarde de poesia e intimidade de palavras partilhadas, no Palácio de Laguares, Sábado, 10 de Setembro, pelas 18:30. Se puder contar com a vossa presença, teria ainda muito mais prazer e gosto, do que o que tenho, à partida. Este livro é, primeiramente, vosso. Não é propriedade minha, tirando no sentido autoral. Logo, faria todo o sentido que o lançamento se fizesse também pautar pela vossa companhia.

Um enorme abraço,

Pedro Tiago

quarta-feira, agosto 24, 2011

velhice mental, ou prudência? ah, porra...

É possível que esteja a ficar velho. Bem, é pelo menos possível que esteja a ficar chato, um bocadinho velho antes de tempo... tenho amigos mais velhos que eu que não são tão chatos, tão peremptórios, que prezam uma liberdade em tudo. E o que me irrita um bocado é que também já fui assim. Mas vou sendo cada vez menos, pronto. Não vale a pena discorrer sobre isso. A minha pessoa de hoje é assim, é isso, por mais que me irrite, que me aborreça. E que aborreça outros, que me rodeiam.
A verdade é que só há dias dei por um fenómeno musical recente em Portugal, uns tais de Amor Electro, que se apresentam como banda Pop, Alternativa, Electrónica e demais rótulos desses que se usam para referir a música, hoje em dia. Ora, os Amor Electro são um desses super-grupos do pop electro que se tem vindo a fazer em Portugal desde meados dos anos noventa, e em particular desde 2000, com bandas como os The Gift, os Mesa, os Donna Maria (cuja ex-vocalista, Marisa Pinto/Marisa Liz é a actual vocalista dos Amor Electro) e, em certa medida, os próprios Clã e projectos que deles saíram (Humanos, etc). Ouvindo Amor Electro ou qualquer uma destas outras bandas (quase de certeza que há mais, estas são apenas as de que me recordo) vai dar ao mesmo. O som é o mesmo, uma melodia envolta em batidas electrónicas, senhoras com vozes muito soul, muito fado, citando os mesmos exemplos estrangeiros (Air, Massive Attack, Portishead, etc), referindo sempre a mesma originalidade, sempre a mesma certeza absoluta de estarem a fazer "qualquer coisa diferente" no panorama musical português.
No myspace da banda Amor Electro alguém referia que o seu single, "Máquina", é uma música arrasadora, genial, que não cansa. Isto lembrou-me dos comentários idênticos a, por exemplo, singles dos Mesa ("Luz Vaga") ou dos próprios Donna Maria ("Quase Perfeito"). Ora, essas faixas, anos passados sobre elas, são coisas que analisamos com alguma distância como eventos que inundaram as rádios durante meses, que "não cansavam", que "eram geniais", que "nunca se tinha ouvido nada assim", mas que, com o passar do tempo, simplesmente desapareceram do ar e das lembranças do público. Há, com certeza, fãs dessas bandas que ouvem os cds, mas são uma minoria, porque o público-alvo desse tipo de música acaba por ser aquele género de pessoa que ouve uma musiquinha no carro, a caminho do emprego, ou num jantar de amigos, de volta de uns copos de qualquer coisa alcoólica, enquanto se fala de economia, de roupa, dos filhos ou da falta dos mesmos, da colega de trabalho que não devolveu uns óculos de sol emprestados, e por aí fora. Claro que, não sendo preclaro, não podendo prever o futuro, tudo isto não passam de conjecturas, da minha parte, e é possível que estes senhores fiquem para a história, façam uma pequena carreira. Sim, é possível, os já referidos The Gift, pais deste tipo de música, em Portugal, aí continuam, a lançar cds com cada vez mais valor de produção (embora não necessariamente qualidade), e os seus singles do passado são parte integrante de um repertório factual da música pop que ficou inscrita na história recente da memória musical. Mas, com toda a franqueza, não me parece. Porque os coloco ao mesmo nível dos outros, de Mesas e Donnas Marias e outros que tais. A questão da efemeridade da música pop já é largamente debatida por quem tem mais direito e propriedade para o fazer, do que eu, portanto, tentarei entrar por esse caminho o menos possível, sendo, contudo, óbvio que isso explicaria muita coisa a este respeito. Coisas que estavam em voga há uns seis, sete anos, já não são lembradas por ninguém, a menos que fizessem parte daquele lote de coisas próprias da nostalgia que, "de tão más, são boas". Até no dia-a-dia nos podemos aperceber disso, olhando para o agora. Os Deolinda, por exemplo, misturando também o fado com algum jazz e música tradicional, resultando num pop mais tradicional, onde o fado assume o papel principal, já tiveram o seu pico de popularidade e estão assumidamente a desvanecer. A seguir às manifs "À Rasca", que por aí grassaram, e que, até ver, não passaram de um fenómeno mediático que os media acarinharam e levaram ao colo até onde puderam (manifs, essas, que funcionaram sempre em torno do tema dos Deolinda, "Parva Que Sou"), a banda tem estado a desaparecer por entre os tecidos do tempo, para ficar, por exemplo (porque não?), na condição de projectos como os Rio Grande ou os mais recentes Cabeças no Ar.
É claro que as bandas que ouço, desde Belle Chase Hotel a Man Man, de Morphine a Sonic Youth, de Menomena a Dead Combo, podem nunca ficar para a história. Estão nas mesmas condições. Só que o público-alvo deles raramente foi algum. Eles quiseram/querem fazer a música que lhes apetece, tentando trazer algo de novo ao oásis de criação que o pós-modernismo nos oferece, com tantos limites abertos, que acaba por no-los fechar todos, também. E, convenhamos, os verdadeiros fãs destes grupos não se comportam como fãs casuais do pop electrónico português. Esse tipo de fãs limita-se a acompanhar os fenómenos, enquanto o verdadeiro apreciador de uma banda (coisa que julgo ser apenas possível se a qualidade da banda for boa) tem sempre em mente o trabalho discográfico ao longo dos anos, no seu todo. Para além disto, tenho a decência de saber gostar dos verdadeiros mestres consagrados da música erudita/clássica e do jazz, nomes que vão muito para além de hits de rádio e um ou outro jovenzinho a querer ser adulto que proclama "esta música é genial e não cansa nunca!"
Devo deixar que seja a história a julgar os Amor Electro, os Deolinda, os Mesa, os Donna Maria. Devo. Mas creio que o seu caminho irá, invariavelmente, desembocar nesse tecido temporal reservado às coisas que se esquecem. Que talvez se ouçam de vez em quando, passados uns anos, numa situação ocasional, sem entusiasmo e apenas uma ou duas vezes.
Para terminar, deixo só uma nota, em jeito de ironia, para quem o quiser entender assim, ou em jeito de afirmação verdadeira e sincera, para os que se quiserem manter zen e ingénuos, sem ofensas contra ninguém, que nada disto é para levar a sério. A contemporaneidade é uma velocidade constante e sempre maior, imparável, e pedir que se procure a qualidade, ao invés da quantidade célere e efémera dos dias de hoje, é apenas estúpido. Não sejam estúpidos, pois. Não façam caso. Gastem tempo com tudo o que não vale a pena.

segunda-feira, julho 11, 2011

why must itself up every of a park
anus stick some quote statue unquote to
prove that a hero equals any jerk
who was afraid to dare to answer "no"?
quote citizens unquote might otherwise
forget(to err is human;to forgive
divine)that if the quote state unquote says
"kill" killing is an act of christian love.
"Nothing" in 1944 AD
"can stand against the argument of mil
itary necessity"(generalissimo e)
and echo answers "there is no appeal
from reason"(freud)--you pays your money and
you doesn't take your choice. Ain't freedom grand



E.E. Cummings

quinta-feira, junho 30, 2011

Canal Q, ou "a necessidade de irmos contra a corrente só porque sim"

Este texto já andava para ser escrito há algum tempo, mas confesso que não tenho dedicado as minhas férias à escrita, lamentavelmente, e muito menos à escrita no que aos blogs diz respeito, particularmente este blog, em concreto. Mas vai ser agora.
Existe um canal, exclusivo do meo, serviço de televisão por cabo que subscrevo, que dá pelo nome minimalista de "Q". É um canal das Produções Fictícias (PF) e, como tal, apresenta-se como um canal de humor e de estilo de vida "alternativo", ou, pelo menos, aquilo que hoje em dia vai passando como alternativo. Não é que não ache alguma piada aos formatos das PF, não é que não aprecie o tipo de humor tantas vezes deadpan e nonsense pelo qual eles se parecem reger, ou, vá, no mínimo, pela ironia e sarcasmo latentes em quase tudo o que fazem. Mas, como é sabido, tudo o que é demais (e de mais), enjoa. E as PF andam pelos meios televisivos como se fossem a única companhia a criar humor, neste momento, em Portugal. Quase tudo o que se vê é PF. Os tão acarinhados Gato Fedorento (mesmo que eu não entenda o porquê de tanto entusiasmo em torno desses cavalheiros, nunca me agradaram por aí além) são PF. O grupinho de Bruno Nogueira e João Quadros e etc. e tal é PF. Os guiões do Herman José são das PF (talvez daí a genuína perda de piada do senhor, de uns anos a esta parte? Só um palpite, digo eu, caro Herman). As PF estão, para o humor, como o Acontece estava, para a cultura em TV, há uns anos atrás. E, se alguém sequer se lembra, o fim do programa deu-se, entre outras razões, porque monopolizava tudo o que era cultura, não dando espaços e oportunidades a quaisquer outras plataformas. Claro que se poderá (e deverá) argumentar que, depois do Acontece, as coisas não melhoraram muito. É verdade. Diria mesmo que não melhoraram nada. Agora, bem vistas as coisas, nem sequer há um programa de cultura, per se, na televisão. Mas, pelo menos, sacudiu-se aquele mofo. E, sim, é provável que não haja mais ninguém disponível para fazer humor em TV e rádio e na internet, como as PF se disponibilizam e prontificam a fazer. Poder-me-ão, ainda, dizer que os tipos do GANA/CENA/Pomada Indiana/etc., se venderam às PF (João Moreira surge, diversas vezes, vestido de galináceo, na programação mais recente do Canal Q, por exemplo), e que eles eram a única alternativa verdadeira a esse gigante do humor e dos guiões que se querem humorísticos para tudo relacionado com os media. Mas, sejamos francos, a verdade é que já não há pachorra. Não há pachorra para o clã Markl, para os Salvadores Martinhas, para os pseudo-intelectuais com barba rala de quatro dias, blazers justinhos, quase cintados, com t-shirts de filmes do Tarantino ou de jogos da NES ou da Atari por baixo, sempre com um ar oh-so bichona/boiola/metrossexual-porque-está-na-moda, a repetirem as mesmas piadas vezes sem conta, a fazerem aquele tom de fim de frase de quem está envergonhado ou de quem se apercebe, conscientemente, de qualquer coisa inconsciente, como "ah, ok, se calhar isto não era para dizer", enquanto fogem com os olhos da câmara e apertam os lábios um contra o outro. E, no fundo, o pior é que são todos uma cambada de burros laureados pelos jovenzinhos deste país, que é quem consome aquilo tudo, sem reclamar, que nem se apercebem que os seus ídolos são meras cópias uns dos outros, é tudo gente a tentar ser o outro, é tudo Fernandos Alvins a tentarem ser Ruis Unas, tudo a tentar ser o Manel João Vieira e o Manel João Vieira, enfim, a ser já só uma sombra do que foi, a tentar ser sério quando brinca, a tentar brincar quando está sério, culto, a fingir que não é, e a inspirar toda uma geração de meninos com pretensões de humoristas a serem cultos quando, na verdade, não passam de uma cambada de burros que mal falar sabem.
Mas, enfim, este nem era o teor do comentário. Chamemos-lhe, apenas, uma introdução. O que me levou a ponderar escrever isto foi o programa aberrante (não tenho outra adjectivação possível), que dá pelo nome de Os Culturistas, do passado dia 13 de Junho, aniversário de Fernando Pessoa, que passou no dito Canal Q, programa da autoria de Nuno Artur Silva, director do canal e cara de uma série de programas desinteressantes, no mesmo, apresentado por ele, por Pedro Mexia, e um outro Pedro Vieira, senhor todo ele muito pseudo-culto e ainda mais pseudo-tudo-e-mais-alguma-coisa, cavalheiro que apresenta programas de literatura e cultura no mesmo canal. O convidado do programa em questão foi o poeta, tradutor, teórico, estudioso e demais classificações literário-profissionais-académicas Vasco Graça Moura. Até aqui, enfim, nada de mais, não fora o facto de desgostar dos senhores apresentadores, por anteriores passagens de zapping pelo canal 15 do meo (posição do Q na grelha), e de não achar que a poesia, quer do excelentíssimo Vasco Graça Moura, quer do ilustre Pedro Mexia, vá particularmente de encontro à minha sensibilidade estética. O problema surge no tema do programa. Ora, sobre o que escolheram falar tais digníssimos pensadores da contemporaneidade? Sobre Fernando Pessoa, nem mais. Mas, reconheçamos, sobre Fernando Pessoa sob todo um novo prisma. Talvez com dor-de-cotovelo, talvez só porque, sei lá, há para aí uns senhores professores de ensino básico e secundário e, até, quem diria!, uns senhores professores universitários e uns jovens, uns adultos, uns idosos nem sequer ligados ao estudo científico e "laboratorial" da literatura e da poesia que gostam de Fernando Pessoa, os caríssimos decidiram realizar um programa, no aniversário de um dos nossos maiores e mais geniais poetas, unica e exclusivamente, para dizer mal. Apesar de tudo, Vasco Graça Moura, espicaçado, que foi, ainda foi o único a manter o decoro, dizendo que a sua opinião sobre Pessoa era meramente individual e idiossincrática, que o poeta tem o seu valor e que o seu papel na literatura mundial é incontornável. Mas, tal era o clima de maledicência naquele estúdio, que, em pouco tempo, já até Graça Moura tinha olvidado estes argumentos, e ingressado no dizer mal só porque sim.
É verdade que o Pessoa está na moda. É verdade que, no estrangeiro, particularmente em países anglófonos, o Pessoa é dos nossos autores mais lidos e traduzidos. É verdade que muitos jovens se interessam por Pessoa por causa da sua suposta esquizofrenia, da sua loucura, dos temas de cansaço e melancolia e solidão e incapacidade e diletância física, patentes nos seus poemas mais conhecidos. Mas é também verdade que Fernando Pessoa tem uma qualidade inegável. Pode não agradar a todos, mas agrada a grande parte, pela universalidade das suas mensagens, pela intemporalidade dos seus temas. Pessoa nunca será apenas um modernista. Não sei se era louco, ou não, e, com toda a franqueza, enquanto estudioso e trabalhador da literatura, isso não me interessa. Interessa-me o seu legado, interessa-me quanto daquilo que leio, de Pessoa, me diz coisas íntimas, ao coração e à alma. Pessoa fazia da palavra e da língua o seu laboratório, e fazia-o como tão poucos, ao longo da história da humanidade, o souberam fazer. E é ridículo que uns senhores muito cultos se juntem apenas para dizer mal. Para reduzir Fernando Pessoa a umas situações ridículas, a um desespero infantil, do qual "qualquer homem adulto saberia sair". Mais ridículo, ainda, quando o programa se auto-intitula "Culturistas". Primeiro, porque, se, por "culturistas" querem fazer um jogo de palavras, rejeitam toda a cultura, toda a literatura e teoria literária, ao rejeitar assim Fernando Pessoa. Depois, porque, se, de facto, são culturistas, no sentido mais... anaeróbico do termo, deviam-se restringir ao que os culturistas sabem fazer. Que é musculação e injecções de esteróides. De literatura é que, lamento, não percebem um chavelho. Ainda para mais, quando o prezado indivíduo que apresenta as outras rubricas de "literatura" do canal alega, neste programa, que nem sequer gosta muito de ler poesia (dizendo, inclusivamente, que não tem, por hábito, ler poesia). Meu amigo, se não gostas de ler poesia, não percebo mesmo porque raio é que estás a apresentar programas de literatura. Poesia e literatura são indissociáveis. Quem gosta de literatura a sério também gosta de poesia e de teatro e de prosa. É assim que as coisas são. Ou, vá lá, podia não gostar muito de poesia. Nada obsta. Mas, por amor da santa, criar, quanto mais não fosse, o hábito de a ler, se se vai ser apresentador pseudo-literato num programa de poesia de um canal pseudo-culto para jovenzinhos em fase "do contra" das suas existências rebeldes.
Queria apenas dizer isto, no final de um texto tão mal estruturado, no qual não disse metade das coisas que tinha em mente: não digam assim mal do Pessoa num programa que tantos miúdos vêem, pode ser? O Pessoa pode ser o que seja, eu próprio já tive a minha fase mais obsessiva, como toda a gente, acho eu, que me passou, e, neste momento, acho que ainda vou gostando apenas de Álvaro de Campos, uma ou outra coisa do Alberto Caeiro, muito pouca coisa do ortónimo, quase nada do Ricardo Reis. Mas sempre muito Bernardo Soares. Sempre todo o Bernardo Soares (a discussão do semi-heterónimo fica para outro post, por agora, fiquemo-nos por isto). Pessoa passou-me um bocado, como passa a tanta gente. Mas fica sempre qualquer coisa, fica sempre muito, porque é isso que acontece com os génios. E não é porque ele está na moda e vai estando e ficando na moda que têm de ser do contra. Sejam do contra em relação ao que está na moda sem dever estar, não sejam do contra só porque sim, irracionalmente. Porque, neste país à beira-mar plantado (e de forma gradualmente assustadora só e apenas plantado, aqui, a vegetar, à espera de milagres), cada vez se lê menos, nem só poesia, mas sobretudo. Portanto, se os miúdos e os jovens agarram Pessoa e gostam, se se revêem naquilo que ele fez, se se identificam, deixem-nos ler Pessoa, deixem-nos amar a poesia, não façam estas coisas, a crucificar um poeta tão bom e tão genial, que é nosso, para os miúdos que assistem ao vosso canal, para o caso de gostarem, deixarem a poesia de lado, influenciados pelo que lhes dizem.
E, só como apontamento, mil vezes Fernando Pessoa, ortónimo, heterónimos, semi-heterónimo, do que Pedro Mexia e/ou Vasco Graça Moura. Só, assim, vá, como achegazinha. Mil vezes o Pessoa na moda, do que o humor e a alegada cultura "alternativa" de rebanhos que se vai fazendo no Canal Q e nos media, do contra só porque sim.

P.S.: no dia do aniversário da morte do Saramago, esse cavalheiro que escrevia mal que se fartava, mas que é mitificado só por receber uma porcaria de um Nobel (prémio que, quem está por dentro, sabe ser atribuído, nos últimos anos, apenas por mérito social e político, não literário), o Q fez pelo menos um programa a dizer bem do senhor laureado. Viva a congruência e a honestidade intelectual e a integridade de princípios dos energúmenos do Canal Q!!! Hooray!

quarta-feira, março 30, 2011

once again, with feeling

É verdade que "estamos velhos para ler e fazer poesia como líamos e fazíamos". Agora, "temos todo um conhecimento por trás, a poesia que nos sai tem de ser mais completa, tem de servir um propósito mais iluminado, mais esclarecido, temos outros conhecimentos, outras vivências, e a poesia não é para ser banalizada". Tudo bem. Não deixa de ser verdade. Mas sinto uma falta imensa, tremenda, mesmo, de escrever poesia e de ler poesia como lia, como escrevia. É terrível, para mim, ter perdido um grupo de amigos que escreviam poesia (e era mesmo poesia, a sério que era, não eram só umas coisitas que se iam escrevendo e mostrando), um verdadeiro grupo criativo, onde íamos crescendo enquanto poetas e enquanto pessoas, vendo bem as coisas.
Desde que voltei à faculdade, não se encontra um indivíduo que demonstre verdadeiro interesse por isso. Acredito, talvez no auge da minha tão bem sabida ingenuidade perante as coisas, que existirão por lá pessoas que gostem de poesia, que escrevam as suas coisas, que mantenham blogs, mas esta geração mais nova (os que entraram este ano são de 92) tem-me desiludido bastante. A vários níveis. Não é que não se interessem, simplesmente não parecem interessados naquilo que é a espinha dorsal do curso em que estão - e em questão: falo das pessoas do meu curso, Línguas, Literaturas e Culturas (Línguas e Literaturas Modernas, ainda quando entrei nele pela primeira vez), independentemente da variante escolhida... essas pessoas deviam, pelo menos, ter um mínimo interesse por literatura, julgo eu, ainda que mal, se calhar, mas deviam. E isto não é só poesia, está certo, mas é também, correcto? Ou não? Enfim, tendo uma predilecção por poesia, não descarto nem descuro nem desgosto da prosa. Gosto de ambas. E de escrita dramatúrgica, teatro, claro. Tudo. Não gosto é do que passa por ser literatura, e vejo toda a gente só a falar disso, como se a fosse. Falam do Harry Potter (da J.K. Rowling, aliás, ainda que nunca a refiram), do Dan Brown, do Miguel Sousa Tavares, como se isso fosse a verdadeira literatura, é possível, até, que nunca tenham lido nada que realmente valesse a pena. E isto é triste, é muito triste, para mim, pelo menos.
Tento falar com pessoas que vou conhecendo mas isso já nem é assunto que interesse, numa conversa. Não lhes interessa que tenha blogs ou cadernos, não estão interessados em ver os meus mais recentes textos, como outras pessoas, noutro tempo, no mesmo lugar, estiveram... as únicas pessoas que ainda vão escrevendo e editando (através de editoras online, estilo do it yourself, como a Lulu ou a EuEdito), escrevem, para ser directo, mal, com erros e sem coerência nem maturidade, ainda com um narcicismo muito vigoroso do qual não querem abdicar, por se recusarem à tal partilha edificante de textos, antes de os terem em formato livro. E, pronto, "estas" pessoas resumem-se a "esta" pessoa, um amigo de filosofia que, apesar de tudo, lê coisas boas, embora prefira falar de filmes, de drogas, de música, de mulheres, de carros, enfim... quase tudo, antes de se esgotar o assunto e falar de poesia.
Muito sinceramente, é possível que esse grupo a que pertenci fosse imaturo e infantil demais, talvez a nossa poesia de então ainda precisasse de crescer, se calhar alguns dos elementos desse quarteto original estejam melhor assim, evoluindo na sua individualidade de académicos e estudiosos, e desejo-lhes, com toda a honestidade, o melhor. Contudo, estes, que entraram agora, ainda estariam no "direito" de escrever e ler com a inocência que nos foi própria, com aquele encanto, a dádiva da poesia em conjunto, a maravilha de ler um poema novo de um amigo, a alegria de uma coisa nossa, individual e comum. Estariam no "direito" de não ser educados, maduros, formados pela escola e pela vida, de ainda se encantarem com o fazer poesia, com o ler poesia, sem análises, sem teorias do Bernstein ou do Adorno ou do Benjamin ou do Heidsieck ou do Alberto Pimenta ou do Steiner por trás, só as teorias do amor à arte, só a paixão pelas palavras, pelas imagens, pelas figuras de estilo, pela fluência dessa coisa maior da qual nos tornamos veículos. Claro que importam esses teóricos, esses linguistas, esses estudiosos, esses académicos, claro que sim, e não o digo com ironia, digo-o com franqueza, mas, na minha humilde perspectiva, demasiada instrução e teorização acaba por destruir o espírito "nobre" e "original" a que essa poesia despretensiosa se propõe. A própria Doris Lessing, no prefácio ao seu The Golden Notebook, alega ter desistido da escola com 14 anos, de achar que tinha perdido muito, numa fase da sua vida, e ter voltado a estudar, a frequentar seminários, leituras, apresentações, só para se aperceber que, afinal, estava a fazer melhor, sem toda aquela carga excessiva de teorias e de explicações académicas, que tudo aquilo era fastidioso, fatigante e, no fim de contas, não servia para nada. Enfim, estes jovens estavam em condições de, de uma forma limpa e revigorante, olharem para a poesia e escreverem a poesia, amarem-na, admirarem-na, não como coisa que criaram, mas como algo maior, que saiu deles, que passou por um processo de "filtragem", em que o "filtro" foram eles, autores do poema, poetas. É sobretudo isto que me dói.
Percebo que os meus antigos companheiros de poesia e de amizade já não estejam dispostos à minha forma "não-evoluida", imatura, infantil, estagnada, até, se quisermos, de ir fazendo poesia, mas estas novas pessoas não estão nesse caso e, no entanto, parecem velhos fora de tempo, a viver as suas vidas sem interesse, a ir às compras, a conversar acerca da Lady Gaga e da Katy Perry e de um sem-número de bandas de rock indie que não ficarão para a história, porque são todas, sem excepção, iguais entre si, a trabalhar para o curso "porque tem de ser"... mas ler, nada. Muito menos falar disso.
A namorada de um amigo, em jeito ofensivo, diz-lhe que ele vai ser "especialista em papéis", explicando de forma clara o que os jovens de hoje acham em relação ao nosso curso. Não é preciso amor a nada, nem gostar de ler nada. A única coisa que nos resta é aprender umas teorias, saber relacionar uns conceitos, ter pensamento lógico e abstracto e decorar umas regras linguísticas, saber fazer ensaios e recensões e teses. Porque um especialista em papéis não precisa de gostar de poesia.

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

hm?

olha, sobretudo, obrigado pelas tardes, pelas noites, pelos almoços e pelos jantares, pela paciência, tantas vezes, em aturares tanta estupidez e tanta irascibilidade, obrigado pelo dinheiro "emprestado", pelos cremes, pelas pomadas, por partilhares um bocadinho da tua vida e o teu corpo, obrigado por vires ter a minha casa sempre que estive doente e não pude ir às aulas, obrigado por me fazeres rir e por me ouvires quando e sempre que estive mal e a vida custava e parecia que não valia a pena (às vezes ainda parece). muito obrigado por teres sido parcial em relação aos "amigos" da editora, por sempre teres tomado o meu partido, e, ainda por cima, não por uma parcialidade cega, mas por creres que a razão estava do meu lado. obrigado pela ajuda em trabalhos, pelo apoio e substancial força e motivação em relação ao que escrevo, obrigado por me teres convencido a trabalhar para que quatro poemas meus fossem publicados na Piolho, obrigado pelo carinho com que dormias abraçada a mim, obrigado pelo interesse pela música e pela literatura, obrigado por teres tentado fazer de mim uma pessoa melhor, mesmo que, agora, que olhamos para trás, percebamos que não foi da maneira correcta e que tanta coisa correu como não devia ter corrido.

quero muito que sejas feliz, algures, sempre, com uma pessoa boa e bonita e interessante que mereça tudo o que és e que tu mereças em tudo o que é, porque tu és uma criatura encantadora, e eu tive muita sorte, apesar de tudo, de poder ter feito parte de qualquer coisa em que metade eras tu.