sexta-feira, maio 11, 2012

coisa mais ao jeito de blog a sério

Ontem houve um senhor do Senegal que, depois de percorrer todo o espaço onde me encontrava, tentando vender produtos "típicos" aos veraneantes da noite lisboeta, nas esplanadas do Holmes Place, sitas na Avenida da Liberdade, e sendo muito mal sucedido, decidiu que me devia simplesmente meter uma no pulso esquerdo e pedir-me um euro. Uma vez que eu não tinha um euro, o cavalheiro fez-me só um "fixe", com seu polegar assertivamente erguido na mão cerrada, esboçando um sorriso e dando a informação de "não há problema, eu dou-te isso, é do Senegal." Portanto, tenho, hoje, mais uma pulseira. Que é do Senegal. E é feia. Mas representa qualquer coisa e, por isso mesmo, estimo-a. Olho para ela e ainda me alegro um bocadinho, por saber que, mesmo que toda a gente me odeie e me ache doente e disfuncional, há sempre pessoas que procuram para lá da minha antipatia e atitude anti-social (ex.: a música estava alta demais, e consistia em batidas electrónicas e remixes, "coisas felizes e luminosas, para se dançar", e havia demasiada gente, portanto, pus os meus auscultadores anti-ruído externo, liguei o leitor de mp3 nuns Sonic Youth e sentei-me sozinho numa mesa, não indo dançar, não indo saltar, não indo "conviver" nem rir nem piscar o olho nem tentar "conhecer" pessoas).
As meninas interessantes da faculdade podem não querer saber de mim para nada, porque engordei, com a idade, porque não me penteio, porque tenho barba, porque não tomo drogas, porque não toco em nenhuma banda indie, porque não faço desporto e abomino quase toda a gente que o faz, porque não sou um animal social com mais de 50000 contactos em redes sociais ou porque não cumprimento toda a gente que conheço, de os ver. Mas, apesar de tudo, ainda há senhores que, vivendo no limiar ou para lá do limiar dos padrões estúpidos do social, me percebem e vêem que eu valho a pena. Apertam-me a mão de forma sincera. Olham-me nos olhos. Dizem-me coisas com os olhos. Dão-me carinho com os olhos e sabem que eu sou uma das melhores pessoas do mundo. Apesar de tudo, as pessoas de quem nunca ninguém gosta, por "este" ou "aquele" motivo, percebem que há "qualquer coisa" em mim e não fogem. E, apesar de tudo, em certos - cada vez menos, é claro, mas... - sítios, em determinadas ocasiões, ler e ouvir música e fumar e beber de cabeça baixa, não ligando muito ao que se passa em torno (ou dando a entender que não, quando, na verdade, vejo e apercebo-me e observo tudo, ao pormenor), ainda vai chegando para que algumas pessoas desencantem dentro de si um encanto, ainda que pequenino, às vezes, mas um encanto, ainda assim, por mim.
Não desisto, embora doa. Assumi-me assim, e assumo-o até ao dia em que deixar de o ser, se algum dia o deixar de ser. Só sou. Sou. Muito. Intensamente. Sempre. Sem desistir, sem desesperar, sem deixar de esperar activamente uma coisa de que preciso. E sei (sei!) que querer amor, querer dar amor e receber amor e viver de amor não é doente nem doentio. É bonito. E faz bem ao que somos e não é físico e externo. E ao que é físico e externo, também.