segunda-feira, julho 31, 2006

Canaã

Quero apenas dizer que estou cansado da guerra. Que não concordo nem consigo concordar com nenhum dos lados. Não há vítimas nem carrascos, embora uns possam ser mais uma coisa que outros. Estou triste. Cansado, até. Apetece-me chorar por todos os homens e mulheres que dão a cara pelos países poderosos e nunca derramam uma lágrima. No fundo, nada disto lhes diz respeito. Não interessa que morram dois ou três inocentes. Mente-se em nome do politicamente correcto. Fingem-se sentimentos. É verdade que ninguém pode ficar alheio às imagens de crianças mortas seguras e transportadas nos braços das equipas de resgate e de civis que se juntam para ajudar. Tudo isto é verdade. Mas a política parece não se compadecer com a fragilidade e com a sensibilidade humanas. Não entendo a política e não a quero. Não gosto da direita e não gosto da esquerda. Não concordo com uns nem com outros, parecem-me tão iguais em tudo e no entanto tão diferentes. Sei-os capazes das mesmas coisas. Das mortes. Dos sacrifícios sempre de uns em prol de não sei bem o quê para os outros. Porque não é possível simplesmente a pluralidade sem mais nada? Porque não é possível uma democracia a sério, sem direitas nem esquerdas, apenas uma coisa quase amorfa mas competente e eficaz, que não preconizasse ideias nem ideais, mas simplesmente cumprisse as suas funções governativas? Não sou a favor dos sacrifícios de ninguém e das coisas que lhes são queridas em favor do bem estar de outros. Creio haver lugar para tudo e para todos, sem ser necessário cortar os braços e as pernas a uns, sejam eles quais forem. Estou farto da política e das guerras. Estou farto das conversas de café, longe dos sítios onde as bombas caem, culpando uns e outros, opinando como se tudo aquilo lhes dissesse tanto respeito, mas, no fundo, falando das coisas sem respeito nenhum, apenas raiva e ódio. Semelhantes em tudo àquilo que recriminam nesses que produzem a guerra, no seu discurso aguerrido.
Estou farto da auto-comiseração de Israel e da sua "tarefa bíblica" de proteger o seu povo segundo as moderníssimas Leis de Talião - olho por olho, dente por dente, embora me pareça mais que seja olho por dente e cabeça por olho. É óbvio que a comunidade internacional lhes reconhece tempos difícieis na altura do Holocausto, mas esses tempos já lá vão, há que seguir em frente, e não entrar em megalomanias de conquista desenfreada de território que não é o seu. Estou farto da ameaça árabe com a qual não concordo. Estou farto, porque concordo com eles e com as suas posições, mas abomino a forma como respondem às agressãoes que lhes são feitas. Dir-me-ão que desconheço a conjuntura política e os detalhes das coisas como realmente são. Será talvez verdade, mas falo por mim, enquanto indíviduo singular, e não enquanto analista político-económico de renome. Todas estas coisas me cansam. O lado de uns e o lado de outros. A haver pressões, a haver resoluções, que as haja para ambos os lados, e não só para um.
Eu não sei mais o que dizer. Queria escrever um texto sobre os bombardeamentos israelitas sobre Canaã e saiu-me um texto completamente diferente, mas deixá-lo-ei como está, sem emendas, sem correcções. No fundo, são as minhas ideias e são as minhas lágrimas e o meu cansaço e o meu desespero e o meu cada vez maior descrédito pela política e pelas ideologias de fanatismo e de patriotismo...

E por aqui me fico.

domingo, julho 02, 2006

Wii não vai ser consola de próxima geração

Satoru Iwata, presidente da Nintendo, deu há tempos uma entrevista em que afirma que a próxima consola que vão fabricar, a Wii (anteriormente conhecida pelo nome de código "Revolution"), "não faz parte das consolas de próxima geração". Iwata diz que, se o que é considerado consola de próxima geração é a PlayStation3 e a XBox 360, então, a Wii não pode ser considerada consola de próxima geração, pois não se trata apenas de "uma versão aumentada da GameCube [a consola da Nintendo da geração actual]".
Claro que este discurso tem sido usado pela concorrência (maioritariamente pelos fanáticos da Sony) para denegrir a Wii e a política da Nintendo em geral, alegando que a Wii não competirá directamente com as outras duas por não ter nem perto das características técnicas que estas têm (ou terão, no caso da PS3, ainda para ser lançada), nem as folhas de características enchem páginas e páginas de números que não interessam ao diabo, como as outras duas fazem. Eu, pessoalmente, discordo. Creio que o que Satoru Iwata queria dizer era que a Wii, se as outras duas consolas são apenas, respectivamente, versões aumentadas das actuais PS2 e XBox, então, que se apresenta completamente diferente em todos os aspectos, não se pode meter no mesmo saco da suposta "próxima geração" de consolas. Pode não ser uma actualização gráfica e técnica/tecnológica, mas é uma actualização a todos os outros níveis pensados e imaginados. E enquanto a PS3 e a XBox 360 oferecerão jogos "de próxima geração" aos jogadores (ou seja, jogos que são os mesmos blockbusters e jogos comerciais sem sentido nenhum, apenas violência à discrição e muito sangue na imagem, que vendem nos dias de hoje, mas com gráficos melhorados), a Wii oferecerá toda uma nova abordagem aos jogos de vídeo, permitindo aos jogadores uma interface fácil e intuitiva, e compensando a falta de características técnicas com jogos criativos e originais e sobretudo um comando que permite uma interacção com os jogos até por aqueles que habitualmente nunca gostaram de jogar jogos de vídeo. Afinal, quem é que não pega num comando de televisão e o abana? Praticamente o comando da Wii (já apelidado de "wii-mote") é isso mesmo: um comando de televisão, à distância, sem fios, que se move com a mão e os resultados se vêem no ecrã. Qualquer um pega no comando e joga. E apelará também aos fãs old school do retro-gaming, permitindo fazer o download legal de títulos lançados para todas as consolas da Nintendo desde há quase 25 anos para cá. Por isso, entenda-se o cinismo e a ironia de Satoru Iwata no seu comentário. Ele não está a denegrir a Wii, embora também não esteja a denegrir nenhuma das outras, também: apenas demarca os diferentes terrenos, as diferentes noções, os diferentes conceitos do que será a verdadeira próxima geração de jogos de vídeo. E, claro, goza um pouco com a expectativa demasiado exagerada em torno da "Super" PlayStation3.
No fundo, entre os 500 a 700 euros de uma PS3 e os cerca de 150-200 euros de uma Wii, a escolha não será muito difícil, tendo em conta que a primeira é apenas uma PS2 com mais poder técnico, e a segunda é toda uma nova abordagem aos jogos de vídeo como os conhecemos.

(este artigo, não tendo qualquer tipo de interesse, fica aqui porque quero acabar de uma vez por todas com as discussões estúpidas dos artigos abaixo e, não me sentindo no direito de apagar o que as pessoas disseram, mas também não querendo eliminar os artigos e não tendo, ainda, nada de mais interessante para escrever, vai um artigo sobre a única coisa que no desterro das aulas ainda consigo ir sabendo)

quinta-feira, junho 29, 2006

ipsis verbis

"Eu quero é que os portugueses se fodam."

João César Monteiro, um "pateta" que fazia cinema. Bom cinema.

Neste momento, e depois de tão acesa discussão no meu post anterior, apetece-me muito citar César Monteiro.

terça-feira, junho 20, 2006

O orgulho nacional, as bandeirinhas à janela, energia positiva, caramba!!!

Digo-o, atento a quantas vozes e quanta gente me cairá em cima, mas digo-o consciente de estar a falar uma coisa que para mim é verdade: a nossa selecção nacional de futebol de onze é, no máximo dos máximos, média/boa. Não está ao nível das melhores do mundo. Sim, com sorte, a bola é redonda, e tal, como um jovem iraniano disse, na televisão, alegando a hipótese que havia de eles próprios (Irão) vencerem a competição, poderíamos ganhar o campeonato do mundo, a decorrer neste momento, e até não sei quando, na Alemanha, essa grande nação. E quando digo "grande nação" não sei se estou a ser irónico ou não. Entendam como quiserem. Todo o meu bom Portugal, afundado na crise económico-social em que se instalou, na confusão da aplicação de Bolonha às universidades, na revolta do encerramento da Opel da Azambuja e consequente partida da manufacura do Combo para a Rússia, essa grande nação (cf. supra), no sentimento de tristeza e revolta pela perda das maçãs e pêras de Alcobaça, derivado do facto de ter caído granizo, da tristeza e revolta pela perda das uvas de mais de dois mil produtores vitivinícolas da região do Douro, derivado do facto de ter caído granizo, revoltado ainda com o processo interminável da Casa Pia de Lisboa e da pedofilia em geral, os assassinatos da Joana e da Vanessa, a violência nas escolas, o reforçar das facções cada vez mais emergentes e mais factuais da extrema-direita nacionalista, a subida de preços em praticamente tudo, as maternidades a fechar e os utentes (mais as utentes) a terem que ser transportados para maternidades bastante longe da sua área de residência, entre tantas coisas que entretanto sucedem por esse país fora, está, contudo, feliz e radiante, de carinha laroca pintada de verde e vermelho, tantas vezes com a discreta mas presente pequena faixa amarela atravessando o rosto a meio, precisamente cobrindo testa, cana do nariz e queixo, umas vezes mais direitinha do que outras. As meninas lá se juntaram no Estádio Nacional, com a Floribella e mais uma série de famosas recentemente brotando do chão da fama, e, em conjunto, formaram a "mais bonita bandeira do mundo". Tinham gabardines vermelhas e verdes, meu deus! Pareciam o capuchinho vermelho, mas numa parafernália de cores (parece que havia também o pormenor da esfera armilar e do escudo, portanto, teria que haver, no mínimo, vermelho, verde, amarelo, azul e branco). Alguém reparou no ar de enfado das mulheres fotografadas de perto? A bandeira mais linda do mundo é uma bandeira horrível, com uma péssima conjugação de cores, demasiado popular e populista para o gosto geral. Tirando, lá está, daqueles que crêem ser esta a bandeira mais bonita do mundo, pelo menos quando composta por mulheres, as quais, vá lá, se bem que nem todas bonitas, pelo menos grande parte delas escapava, para a maior parte dos homens portugueses. Isto, ainda assim, por mais ridículo que seja, é praticamente irrelevante. Prova apenas que somos óptimos a fazer coisas absurdas para termos uma entrada no livro dos recordes do Guiness, ao lado do homem que dá mais peidos por minuto, ou da donzela que tem mais pêlo no corpo.
Os portugueses acreditam mais que tudo nesta selecção. Que nem sequer é aquilo a que os entendidos chamam de "geração de ouro", ou coisa que o valha. A nossa selecção não irá longe neste mundial. É uma selecção inconstante e inconsistente demais, embora tenhamos o Cristiano Ronaldo e consequente delírio de jovenzinhas que não entendem nada de futebol ou de desporto em geral, mas simplesmente apreciam o peitoril demasiadas vezes visível desse garanhão madeirense, que felizmente conseguiu fugir da pérola do Atlântico e da provável prostituição masculina que, na qualidade de rapazola com poucas condições financeiras, que era, teria que suportar. Quem diz o peitoril, diz as pernaças ou até os belos glúteos, se bem que estes últimos, felizmente, não são tão visíveis como o tórax e a pernoca. A nossa selecção nem sequer é falada na imprensa estrangeira, pelo menos não tanto como a nossa imprensa nacional quer fazer parecer. E independentemente das rap'zadas da Galp, em que uma série de nomes conhecidos (ou nem tanto) dessa maravilha (isto, sim, era muitoirónico) que é o hip-hop nacional gritam que querem mais, sempre mais, muito mais, tudo isto sempre com luvinhas cor-de-laranja nas mãos, provavelmente com palavras de apoio dirigidas à selecção pelos hip-hoppers em questão, pelos portugueses, em geral, e através da PetroGal e da Galp, em particular, a nossa selecção não pode dar mais do que as inconstâncias do costume. A verdade é que os jogadores da selecção não se podiam estar mais a lixar para se ganham ou não. Importam-se com o que ganham, sim, mas duvido que se importem com o facto de ganharem, ou não. Se chegarem praticamente ao fim e perderem (coisa que espero que não aconteça - eu nem sequer espero que cheguem ao fim), garanto-vos, caríssimos amigos, que não veremos nenhuma equipa do Mundial de 66, com o Eusébio à cabeça, chorando, desolado, cara da desilusão nacional de uma selecção que não se esperava que sequer chegasse tão longe. Desta selecção, espera-se tudo, mas de uma forma doentia, que faz com que se esqueça tudo, desde que haja felicidade e camaradagem e alguns apalpões no rabo ocasionais, alguns beijos na boca entre homens geralmente heterossexuais, e coisas agradáveis deste género. É como se nada mais importasse. Claro que é positivo que haja diversão, que haja alegria, mas não é nada positivo que isso nos faça esquecer o resto. E, ainda por cima quando, no fim de tudo, não teremos, quase o posso garantir, nenhum "sonho na mão". Simplesmente voltarão para casa, tendo chegado aos oitavos ou aos quartos-de-final, no máximo, e o povo português só então reconhecerá que, afinal de contas, a nossa selecção nacional, apesar de alguma euforia cega, é meramente mediana, longe do bom ou do excepcional, que se pede a esse tipo de equipa. E o que é que isto tem de mal? E porque é que sou tão rígido com a euforia em torno da selecção nacional de futebol? Por uma razão que me parece simples: porque há literalmente muitas coisas geniais no nosso país, coisas pelas quais somos reconhecidos como excepcionais, além-fronteiras, e a essas coisas ninguém dá valor. Refiro-me, particularmente, à Arte e à Literatura, áreas nas quais somos brilhantes, geniais, e sempre o fomos desde que praticamente somos Portugal, essa bela nação (cf. Alemanha e Rússia). Até nisto se vê que o futebol, em geral, desperta certo tipo de sentimentos mais epidérmicos, logo, aparentemente mais sentidos, se bem que apenas superficiais. Recordo a morte do Féher, em campo, em directo, e do choque dos portugueses, por ser uma figura do futebol, mesmo que até nem jogasse nada de especial, sim, está certo, merece-nos respeito, merece-nos saudade e comoção, mas isso também nos merecem Álvaro Cunhal, Sophia de Melo Breyner, Eugénio de Andrade, só para referir alguns dos que infelizmente morreram no passado recente e tiveram meras honras de óbito nas revistas de actualidades, um cantinho num telejornal ou outro, e, felizmente, uma reportagem que apenas quatro ou cinco pessoas terão visto na 2:, o único canal que vale a pena ter sintonizado, apesar de tudo, nas televisões nacionais. Sejamos sinceros: somos o país do Bocage, do Garrett, do Cesário, do Antero, do Almada, do Sá Carneiro, do Santa-Rita, somos o Portugal do Castelo Branco e do Aquilino Ribeiro e do Torga e da Sophia e da Agustina, o país do Eugénio de Andrade e do Saramago e do Lobo Antunes, do Camões e do Pessoa. Mas isso não interessa, enquanto houver Mourinhos e Cristianos Ronaldos e Figos e Petits e Simões e Maniches e Meiras e Ricardos a marcar penalties para euforia geral do meu povinho, fazendo rezas cegas em frente à televisão, com os dedinhos adiposos sujos de gordura de sardinha.

Quando Portugal perder e voltar, talvez fosse bom parar e pensar um bocado nas coisas. E dar valor àquilo em que somos francamente bons. Nem que sejam os jogos paralímpicos. Ao menos os nossos deficientes são os melhores do mundo.

quarta-feira, junho 07, 2006

Mamã, aquele senhor espetou uma coisa colorida no Mumu!

A primeira palavra que queria incluir neste artigo é "aberração". Estava eu no meu caminho para Lisboa, para a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa ("Omnis Civitas Contra se Divisa Non Stabit"), quando me deparei, perto do término da Calçada de Carriche e consequente início do Campo Grande (aquilo há-de ter outra designação, mas sejamos práticos, acho que toda a gente me entende), junto à zona do Paço do Lumiar, com uns vibrantes cartazes anunciando o regresso das Grandiosas Quintas à Praça de Touros do Campo Pequeno. Se não eram grandiosas, eram algo do género. Vi os cartazes. Vi os forcados. Vi os bandarilheiros. Vi os cavaleiros. Vi a faena e a festa brava. A festa rija. Vi a classificação de idades. Espectáculo para maiores de seis anos. Em numeral cardinal: 6.
Vá lá... miúdos de seis anos a ver aquele espectáculo aberrante de horas seguidas de homens a maltratar animais? Haverá assim tanta frustração sexual que se tenha que descarregar num animal mais viril que os homens, só para se sentirem superiores? Meus amigos, esses fatinhos justos na virilha e no rabo, com lantejoulas, pouco ou nada ajudam. Há jogos de computador bem menos violentos classificados como para maiores de 12, por amor de deus!
Quero dizer a essas pessoas, esses penteadinhos que organizam este tipo de "eventos" que estamos numa sociedade diferente daquilo que eles pensam. Sim, há, infelizmente, estrangeiros e turistas que vêm ver as touradas, sim, é verdade que, ocasionalmente, isso dá dinheiro, mas não creio que isso justifique o facto de realizarem espectáculos de tão baixo nível. Os senhores não têm nunca argumentos decentes para defender a sua causa.
Uns dizem que é tradição. Ora, se é tradição, tanto direito tinham os centro ou sul-americanos descendentes de nativos de fazer rituais em que matavam dezenas de jovens virgens em alto de pirâmides, atirando-os de seguida para dentro de fossos profundos, para que o sol continuasse a brilhar todos os dias. Se os romanos actuais quisessem tanto reavivar a tradição, apenas em prol disso mesmo, teríamos talvez Tibério renascido e novos coliseus montados em diversas partes, para que homens combatessem entre si até à morte ou satisfação da assistência. Felizmente, essas pessoas preferem manter a tradição no seu devido lugar: nos registos históricos, na passagem de testemunho oral e escrita, mais do que na perpetuação dos actos, realizando-os, físicos, concretos, reais, desenquadrados de uma forma "contemporânea" de pensar, de sentir e de agir. Ou de um mínimo bom-senso. Outros, ainda, dizem que os touros criados dentro daquelas raças típicas de tourada (os miura, particularmente) não têm mais utilidade do que essa. Permitam-me discordar. Os pequineses, cães criados pelos chineses num reinado de um imperador qualquer, também não tinham outra função que proteger os donos, num raio de acção reduzido (geralmente estavam escondidos nas mangas), de pessoas com más intenções, saltando e mordendo-as. Hoje, são uma raça generalizada que, embora ocasionalmente agressiva para com desconhecidos mal intencionados, são cães afáveis e de trato fácil. Acredito que os touros pertencentes a raças e linhagens exclusivamente dedicadas à tourada, até aos dias de hoje, se não forem educados a tratar mal os humanos e a considerá-los uma ameaça desde o dia em que nascem, até ao dia em que, invariavelmente, morrem na arena, poderão ser touros normais, que vivem vidas normais, num campo ou num estábulo, pastando e vivendo como qualquer bovino. Perdão - os touros portugueses não morrem na arena. Morrem nos bastidores, em condições higiéncias deploráveis, e a carne é depois vendida a distribuidores, para que o consumidor em geral a coma.
Temos tradições que, apesar de tudo, não magoam ninguém, não violam direitos dos animais ou das pessoas, embora, enfim, possam cometer graves ofensas visuais, estéticas, ou até sonoras (cf. ranchos folclóricos e algum fado cantado em tabernas depois de demasiados tintos, panachés ou ginjas, em geral), que não há mal nenhum em continuar a realizar. Mas, touradas, meus amigos? E abertas ao público a partir dos seis anos? Ver montes de homens francamente em superioridade frente a um animal sozinho? E não me venham com histórias de que aquele "toiro" mataria sem remorso todos os homens na arena, e que é a "inteligência" do homem contra o "poder" e a "força bruta" do "toiro"... é cobarde, é muito cobarde fazerem isso a um animal que está em visível e franca inferioridade. E aparecem em programas de televisão, com os vossos cabelos e os vossos fatinhos de tweed e as vossas camisas da Victor Emanuel e os vossos sapatinhos de ir ao figo da Giovanni Galli e os vossos bigodes, ora fartos, ora aparados em formas ridículas, e os vossos pins da bandeira monárquica na lapela, defendendo que amam e conhecem e respeitam mais os "toiros" do que os cidadãos que, no seu perfeito juízo, abominam e condenam a prática da "bonita festa de toiros". Criam-nos desde que nascem para odiar e temer as pessoas. Por amor de deus (ou Deus, maiusculado, como tantos desses senhores prefeririam, peço perdão), digam-me, a sério, que podem considerar isso amar e conhecer e respeitar os touros... educam-nos para ser uma coisa que não interessa mais a ninguém. Sim, estou consciente da vida que os touros levam em muitos matadouros. Sim, como carne, e de vaca também, e sei que um animal teve de morrer, para que eu possa comer a sua carne. Mas sei que esse animal não morreu num espectáculo deplorável de degradação humana, perante uma multidão que o vê ser chacinado, distraídos de tudo e vendo os bandarilheiros, airosos, cravando estacas coloridas no flanco dos animais indefesos - sim, indefesos, consta que inclusivamente lhes aparam os chifres, para que não colham mais seriamente algum toureiro desprevenido. Ainda por cima, com miúdos de seis anos a poderem assistir.
E isto é tradição.

segunda-feira, maio 08, 2006

"Eh, pá! Houve um boss que dropou ali alta sword para o meu priest!" *, ou o fascínio dos MMORPGs e MMOGs em geral.

Toda a gente que me conhece sabe do meu às vezes doentio fascínio por jogos de computador e da minha análise um tanto ou quanto parcial em relação a esse mesmo tema. Este é mais um desses bonitos e didácticos textos, portanto, peço desculpa e até alguma paciência.
Como é possível ver, pelo meu perfil (ver à direita), sou um marmanjo já passado da fasquia dos vinte anitos, logo, passei por algumas experiências em termos de jogos que muita cambada de jovenzinhos porreiraços e malucos não passaram. A minha primeira consola foi uma NES, quando tinha seis ou sete anos, e o meu primeiro jogo (aparte o Super Mario Bros., incluso no pacote promocional da consola) foi The Legend of Zelda naquele fabuloso cartucho dourado. Para mim, sim, é verdade, aqueles eram os verdadeiros dias dourados dos jogos de vídeo, onde os jogos contavam pela sua jogabilidade e inovação, ao invés da capacidade de processar um certo número de polígonos e cálculos e efeitos de luz e fumo e sombra por segundo. Depois, veio a geração de 16bit, um autêntico bombardeamento em termos de inovação dos títulos disponíveis para as consolas, não só a nível gráfico, como, obviamente, a nível da capacidade que os jogos agora tinham de contar histórias e mostrar até alguma arte por parte dos criadores. Sim, é isso que eu aprecio nos jogos: o processo criativo dos produtores/realizadores (como nos filmes, exactamente), que os leva a conceber aqueles mundos e aquelas situações. Um jogo de vídeo, na minha concepção, passando por todas as suas fases (criação, concepção, pesquisa, arte conceptual, argumento, programação, lançamento, publicidade...), não é, nem nunca foi, muito diferente de um livro ou de um filme, às vezes até de um quadro. Há cerca de vinte anos que este vosso caro joga jogos de vídeo. Não sou nenhum entendido no assunto, nenhum pro na coisa, mas sei o que sei e, para além de tudo o mais, considerando que é isso o mais importante, sou capaz de pensar por mim, e não jogar só o que as revistas ou os sites ou os programas de jogos me aconselham. Ora, hoje em dia, ninguém tem uma opinião formada.
Ultimamente tenho saído com adolescentes que só jogam aquilo a que, carinhosamente, chamo de "comercialada", ou seja, jogos que cairam numa fórmula certa de sucesso e nunca dela sairam. Jogos como Grand Theft Auto, Elder Scrolls, Hitman, Splinter Cell, Call of Duty, entre muitos outros, maioritariamente First Person Shooters (FPS) e jogos de acção de fórmulas fáceis, que pouco ou nada puxam pela criatividade dos realizadores/produtores dos jogos. É óbvio que não pretendo que se volte a jogar RPGs como originalmente, numa cave escura e poeirenta, à noite, apenas com quatro ou cinco pessoas, uma folha de papel, lápis e canetas, uma pessoa que faria de Dungeon Master (hoje em dia, num jogo de vídeo, este Dungeon Master seria o programador, realizador e inteligência artificial, tudo ao mesmo tempo), e muita imaginação e criatividade, mas confesso que abomino o que aconteceu aos jogos de vídeo actualmente. Para além de um grupo de pessoas que sente algum fascínio gratuito apenas pelos gráficos e pela violência, sem dar importância alguma ao que se fez antes dos jogos actuais, e sem reconhecer o valor dos jogos antes da era 3D, irrita-me sobretudo a nova geração de jogadores online. Há uns anos atrás, começaram a surgir os primeiros jogos multiplayer jogados através de uma ligação de internet. Nessa altura, como em todos os inícios, os jogos online eram o que deveriam ter continuado a ser, um sítio onde se convivia e onde cada um vivia a sua aventura individual, sozinho ou em grupo, onde ninguém reclamava com ninguém, simplesmente se andava ali, a explorar um (geralmente) vasto e novo mundo virtual, onde cada pessoa podia viver a sua experiência própria, convivendo com outros jogadores como lhes conviesse. Estes jogos, na sua maioria RPGs (Role Playing Games, ou seja, jogos em que o jogador assume um papel numa história - usualmente o de protagonista, embora não necessariamente), eram uma lufada de ar fresco e de inovação no mundo um pouco parado dos jogos de vídeo de então. Houve até muitos MMORPGs de carácter alternativo que, ou nunca vingaram, ou tiveram que se tornar (como verão, mais à frente, no texto) comerciais - um exemplo destes RPGs "traidores" é o, anteriormente genial e hoje absurdamente blockbuster e vulgar, Survival Project International. De seguida, os FPSs passaram também a ter suporte online, chamando toda uma faixa de gente muito mais superficial, apenas concentrada na perfeição e na competição, no facto de serem melhores e mais violentos e superiores a todos os outros jogadores que se atravessem no seu caminho. Desenvolveram técnicas baratas para serem bem sucedidos nas suas "missões" de subirem a escala de melhor jogador, ficando escondidos, saltando sem parar, entre muitas outros bonitos e leais e justos métodos de se relacionarem com o jogador que quer tirar o partido de um jogo, sem ser (outro termo carinhoso) "cagão". Apenas a vitória importa, para estes jogadores actuais. Cedo, aquilo que nos MMORPGs (Massive Multiplyer Online Role Playing Games) era chamado de "newbie", ou "noob", isto é, alguém que joga há pouco tempo e está ainda a aprender as técnicas do jogo, ou seja, alguém que devemos respeitar e ensinar, se tornou num termo depreciativo, para designar todos aqueles que, por vários motivos, não seguem aquilo que essas pessoas acham que são as "regras básicas" do bom funcionamento competitivo, só porque quiseram fazer algo de diferente - coisa que, supostamente, seria promovida, em vez de abafada. No fundo, hoje em dia, se alguém faz parte de uma equipa e não respeita as ordens daquele que se auto-intitula como o "Pro", querendo fazer a sua própria história, é logo, imediatamente, apelidado de noob. E está marcado para o resto da sua experiência enquanto jogador de jogos online, sendo até, na distância do lar do dito "Pro" e seus camaradas carneiros da manada de MMOGs (Massive Multiplayer Online Games), convidado e incitado a abandonar o mundo dos jogos online, por não "os saber jogar como deve ser". Tudo começou quando os jogadores de FPSs online começaram a interessar-se por alguns MMORPGs de fórmulas mais comerciais e fáceis, como o Lineage II, da NCSoft, ou, mais recentemente, o estupidamente comercial World of Warcraft. Foi o pior que poderia alguma vez ter acontecido. Para cativar estas pessoas, estes jogos nada têm de inovador ou alternativo, são apenas jogos que repetem o que sempre se fez em RPGs desde a época do ASCII (jogos feitos no sistema operativo de directórios, programados com simples caracteres - letras e símbolos variados - para os computadores), repetindo-o e repetindo-o e repentindo-o sem nunca reformular nada, até à exaustão. E estas pessoas, esta nova geração de jogadores, recusa-se a olhar para trás, para o que se fez nas consolas de 8 e de 16bit, onde tudo o que eles jogam surgiu, com muito mais inovação do que, sinceramente, as versões que eles tanto adoram e consomem hoje em dia. Isto gera vários factores que eu, não sendo nada parecido a um sociólogo, não irei interpretar.
Como já o disse, estes novos jogadores são adeptos do jogo fácil e competitivo, em que ganhar através de todos os meios é premissa certa e indiscutível. Já nos jogos de singleplayer, são pessoas que se recusam a fazer os seus próprios esforços, indo procurar ajuda sobretudo à internet, para depois dizerem que passaram tal jogo com todos os segredos e todos os sub-níveis e sub-missões desbloqueados, completos, acabados, etc. Nos jogos online, são jogadores que utilizam patches e mods e hacks e cheats e códigos, para terem toda a facilidade do seu lado. São uns merdas, no fundo, peço perdão pela vulgaridade, mas é o que realmente me apetece dizer... e são, também, pessoas que tentam ser cool e in e bem e fixes e porreiras, e recusam-se a traduzir as coisas, mesmo que se estejam a referir a items gerais, que têm a sua tradução para português... meus caros amigos, eu vou-vos dizer isto, de uma vez por todas: A MENOS QUE SE ESTEJAM A REFERIR A UM ITEM ESPECÍFICO (i.e. "Sword of Omens", nos Thundercats, "Master Sword", em The Legend of Zelda, etc.), OS ITEMS GERAIS (espadas, maças, machados, adagas, túnicas, armaduras, flechas, arcos, tudo, meus amigos, TUDO!) PODEM E DEVEM SER REFERIDOS PELOS SEUS NOMES EM PORTUGUÊS! Refiro-me, não só a items, como a classes, para não ouvirmos as aberrações dadas como exemplo no título do texto, entre outras pérolas, ainda por cima quando o inglês é mal falado. Por exemplo, um desses jovenzinhos irritantes que infelizmente tem saído comigo aos Sábados à noite, e com quem tenho tido o desprazer de conviver (para quem a vida não vai mesmo além de jogos de vídeo - embora apenas a supra-citada "comercialada"), refere-se bastantes vezes a "robes" (túnicas, no contexto do jogo) em inglês, dizendo-o como em português. Meus queridos e joviais camaradas: em português, um robe é mais uma coisinha que se veste em casa, com chinelinho e lencinho, para se fumar um cachimbo à lareira, está bem? Deixem de ser irritantes e pseudo-cool, e chamem as coisas pelos nomes, não é por dizerem as coisas em português que o jogo deixa de ser melhor. Ah, e não é por causa de a Gamespot dar grandes notas aos jogos, que eles passam a valer a pena, desculpem acordar-vos para a realidade, mas é assim... felizmente, todos temos a nossa própria opinião. Joguem comercialada, meus queridos e estimados colegas de existência, mas ao menos reconheçam que a comercialada, o blockbuster dos jogos de vídeo, não presta, caiu em fórmulas sempre iguais e demasiado fáceis, que, espero, se gastem, mais tarde ou mais cedo.
Deixem que os MMORPGs voltem a ser o que eram. Deixem cada um jogar como quer. Deixem cada um fazer de um MMORPG aquilo que é suposto fazer: ter o seu próprio e distinto papel numa história que também é sua. Respeitem os ritmos de cada um. Não obriguem as pessoas a vergarem-se a um estilo de jogo, se não querem. E parem com a competição e com a ofensa desenfreadas. Porque também há sempre alguém para vos dar na boca.
E porque a vida, meu amigos, vai para além dos jogos de computador e de vídeo, e os próprios jogos de vídeo vão para além disso que vocês pensam que eles são. Pelo menos os jogos de vídeo REALMENTE inovadores e REALMENTE bons em termos de jogabilidade. Mesmo que tenham aparecido há vinte anos atrás. E um dia, acreditem, será só isso que resta. Apenas esses jogos serão referenciados como obras-primas.

Um abraço. E gastem muito dinheiro nas vossas subscrições ridículas de WoW. E não tenham vida própria. E não abram os vossos horizontes.



* - leia-se "su-órd" em vez de sword e "pri-ésst" em vez de priest. Grato pela atenção.

quinta-feira, março 16, 2006

Cineminha maluco

Eu não fui ver o Match Point. Sinceramente, a minha paciência para o Woody Allen já se esgotou há muito tempo. Aliás: não sei se é a minha paciência para o Woody Allen, se é a mesma paciência, mas para o cinema minimalista-embora-comercial, na sua generalidade. Ou, até, por muita estupidez minha, para o cinema, globalmente falando. Cada vez mais, tendo invariavelmente para os filmes de terror de série B da minha infância e adolescência, não entendo porquê. Talvez porque toda a gente (eu, incluso) lhes reconhece uma tremenda falta de qualidade, particularmente a nível do argumento/história. É a mais pura das verdades, sim. São horríveis. Mas correspondem a um certo encanto. Não desapontam, não criam expectativas demasiado elevadas. São o que são. Proporcianam uma certa quantidade de sustos (ou uma certa quantidade de risos, caso se seja do tipo de pessoas que, para dar um ar de forte, goza com a coisa, e tal...), alguma nudez gratuita, meninas mortas em chuveiros, em pinhais isolados, após uma cena de coito vaginal com um parceiro demasiado magro e com um cabelo péssimo, mas já sabemos para o que vamos: vamos ver uma sessão de cinema de merda, sim.
Contudo, o cineminha minimalista-embora-comercial gera decepções. Decepções veladas por conversas envolvidas em tabaco e café, com livros de escritores franceses ou pelo menos francófonos sobre as mesas. As pessoas que analisam esses filmes geralmente falam as mesmas opiniões que os críticos dos jornais. Atribuem as mesmas estrelas que o DN, as mesmas bolinhas que o Público, ou vice-versa; "sim, sim, este realizador coreano, e tal, o Mário Pinho-Almeida, no Público, diz maravilhas desta obra prima poética e visual, com ilacções possivelmente aplicáveis ao consumo exacerbado de pastéis de nata e do esquerdismo perigoso e latente nas repúblicas ostracizadas do báltico sul". Note-se que eu não sei se existe algum indivíduo, de seu nome Mário Pinho-Almeida, nem tampouco se tal criatura fantástica escreve críticas de cinema para o Público. Marito, se estás a ler isto, peço, desde já, e publicamente, humilde perdão.
É óbvio que tamém abomino as comédias-românticas sem substância, e que aprecio algum tipo de cinema independente, sim, é certo. Mas, por favor, não me impinjam o cinema do Woody Allen, que eu estou tão cansado... e podem ir vê-lo tocar clarinete, ainda que ele toque tão mal, só porque adoram os filmes dele... eu irei ver o "V, for Vendetta" e o Underworld 2 e posso afirmar, desde já, que vou gostar. Muito.

quarta-feira, março 08, 2006

Quantas considerações ridículas acerca de muitas ou poucas coisas...

Eu gosto do Kevin Spacey
porque o Kevin Spacey me lembra subitamente o Nuno Júdice.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006


Eu estava no computador. Provavelmente a jogar.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

(sim, eu vejo e gosto de ver animes, ler manga, jogar jogos de vídeo...)

naruto

é sempre bom saber estas coisas...
e é triste que ainda nenhuma estação de televisão nacional se tenha lembrado de passar o Naruto. Só Do-Re-Mi e Sailor Moon... apre! Homessa!