quinta-feira, janeiro 31, 2013

pequeno atestado de, entre outras coisas, sanidade

é de nós que o mundo precisa urgentemente. dos que não se salvaguardam. dos que querem uma vida inteira, que não se conformam com "o que tem de ser". dos que acreditam no amor como aparece nos anúncios, nos livros, nos filmes, na música. dos que sofrem por amor.
somos nós quem escreve o que importa, o que fica. somos nós quem faz os filmes que interessam, a música que vale a pena, a pintura que toca. não são os que teorizam as coisas. não são os que sobrevivem, os que se "aguentam" e se "esforçam", num estoicismo aberrante.
as coisas que importam, na vida, não são obra dos conformados e dos que vivem. são dos que morrem.

quarta-feira, janeiro 09, 2013

s

é tarde demais tão cedo mas antes que seja mesmo-mesmo tarde demais quero dizer-te isto:

amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te amo-te

quatrocentas e noventa vezes. setenta vezes sete.

a partir de dia 16, por intermédio do Projecto Academo, Pedro Tiago será um autor traduzido.

Aqui fica um dos três poemas a serem publicados dia 16, na sua versão traduzida:

Previsión menos musical de un futuro

Será posible un día que los bancos de jardín
sean llevados lejos y en las playas muchos
cuerpos antiguos desagüen, venidos de ríos
y de barcos naufragados. será el tiempo entero, completo, y en
la televisión se dirá que los bancos han quebrado y que en
todo el mundo se sienten los efectos del crash. será posible
que sea ese el tiempo en que la poesía hable
del crash y de la quiebra de los bancos, en el cine pondrán
peliculas inmóviles de vida salvaje y durante dos horas
se intentará inculcar el amor por el florecer de una
planta. sera el tiempo de animales abandonados,
de papeles amarillentos y viento en las calles, un tiempo
oblicuo, de muchos profetas que hablan sin saber
qué palabras usar.

 © Pedro Tiago, trad. Montserrat Villar González e João Guerreiro

domingo, novembro 04, 2012

ao menos os miúdos ainda me vão vendo com admiração e um desejo de serem um dia iguais a mim. e não sabem, não lhes passa pela cabeça que, tirando a namorada, não querem, de facto.

terça-feira, outubro 23, 2012

nhó nhó nhó

Quando olho para os poetas da minha geração fico só triste, porque estou entre os poetas da minha geração e, quando olho para eles, estou ali também. E nem sequer sou poeta, nem sei bem o que é a minha geração. A minha geração limita-se a ser um perpetuar das outras gerações anteriores, não tem uma voz própria nem está preocupada com isso. E eu não tenho uma voz própria e não estou preocupado com isso.
O maior poeta da minha geração é o Fernando Pessoa, é o Eugénio de Andrade, é o Herberto Helder, é o Ruy Belo, é o Mário Cesariny, é a Sophia de Mello Breyner Andresen, é a Fiama Hasse Pais Brandão, é a Adília Lopes, é o Nuno Júdice, é o Gastão Cruz, é o Al Berto, é o Daniel Faria. Todos estão ou mortos ou a escrever o mesmo (com as devidas variações, obviamente) há décadas, mas os novos poetas limitam-se a viver e a pensar e a escrever à sombra desses nomes. "O Pessoa é o melhor - o maior - poeta de sempre". O Pessoa é bom, mas o Pessoa era o Pessoa, esteve no seu tempo (nem sequer fora dele, nem sequer à frente dele; quando muito, atrás do seu tempo, com as anacrónicas e bafientas incursões poéticas de Ricardo Reis e, em certa medida, Alberto Caeiro), ficou para sempre mas é um produto do seu tempo. Não são precisos mais Pessoas, mais Ruys Belos. São precisos Narcisos Homem, Óscares Pedroso, Luíses Almeida, Ritas Silva. Os John e Jane Doe deste mundo.
A nova voz poética não deve nem pode saber a mofo. Cheirar a pó. A nova voz poética deve romper com isso. Não ser pretensiosa, não ter certeza de ter, em si, a qualidade e o valor que a fazem ser a nova voz poética. A voz poética de hoje fala e ouve-se, como sempre, na clandestinidade. Faz-se nos blogs, faz-se nos cadernos que ninguêm (ainda) lê. Não se faz (maioritariamente, entenda-se, porque excepções existem) nos livros editados com toda a facilidade e analisados por críticos que gabam a textura, a hermenâutica, o tão bom e precioso "beber aos clássicos".
Um poeta, por uma questão de amor e interesse, deve conhecer os clássicos. Saber quem foram, o que fizeram, que relevância têm ou tiveram. Mas um poeta - qualquer indivíduo, aliás - não deve confundir cânone e qualidade com sensilbilidade. O poeta é um produto do seu tempo, não tem de amar loucamente o Dostoievsky só porque sim. Porque o Dostoievsky é bom, mas o que diz, por mais universal que seja, está cristalizado numa conjuntura e numa época específicas. E o Dostoievsky tem qualidade e está no cânone literário, mas não tem, necessariamente, que apelar à sensibilidade de quem nasceu, por exemplo, cinquenta anos depois dele. E quem diz Dostoievsky diz qualquer outro autor.
O poeta tem de procurar a sua voz, sabendo, no entanto, que é impossível não se ser derivativo. Vieram pessoas, antes, que nos influenciaram a todos, e o filtro que o poeta acaba por ser, entre a "poesia pura" e a "vida real" está sempre "corrompido", sempre sujeito a condições. Mas é possível procurar uma voz no meio disto. O conjunto de idiossincrasias de cada autor (essas pequenas "corrupções" e influências externas) são o que lhe dá genuidade e propriedade. É nisso que os novos poetas devem pegar. Não tentar ser uma imitação total de alguém morto, mas usar o que pode, desse alguém, e acrescentar o que tem a dizer, estando vivo no século XXI.
Deve, reitere-se, ler e conhecer os clássicos. Saber com legitimidade quem é Dante e Shakespeare e Victor Hugo e Joyce e Poe e Pessoa e Camões, claro. E Dostoievsky. E Gorky. E Gogol. Claro. Todos. Mas recusar-se aos juízos "soberanos" dos críticos e dos académicos, se se submete aos mesmos "só porque sim". Saber que o Kafka é bom, mas poder reconhecer que O Processo é melhor que A Metamorfose, se é isso que a sensibilidade contemporânea e/ou individual diz. E ler. Ler O Processo. Ler A Metamorfose. Ler o Crime e Castigo. Para não se guiar pelas sinopses baratas da wikipédia (ou, melhor, mas nem por isso perfeitas, da wikipedia [/wɪkɨˈpiːdiə/]), nem deixar que o Google seja o poeta ou a voz poética dos dias de hoje.

quarta-feira, outubro 10, 2012

não vás dizer

dou por mim sempre abandonado no mesmo sítio, com o mesmo livro e os mesmos cadernos, sempre com as mesmas coisas para dizer e a única coisa que sei fazer é doer-me sozinho a mim mesmo.

sábado, setembro 08, 2012

dos sonhos que são mais pesadelos, que outra coisa

(deixa-me fazer-te saber que as coisas que te disse há um espaço tão pequeno de meses já não são verdade. não são. agora são mais, são maiores e mais sinceras e mais francas. agora amo-te mais e quero-te mais e estimo-te mais e acarinho-te mais. e cada dia isso aumenta um bocadinho. e se me deixares

vou estar aqui para sempre.)

domingo, julho 08, 2012

acerca da felicidade, ou uma espécie muito parecida de animal

À saída do café onde me sentei a fazer tempo, a fumar um último cigarro, antes de voltar a casa, ouço um grupo de pessoas que conversam. E estão felizes. Falam de trivialidades, que é aquilo que usualmente se considera próprio das pessoas felizes. Tecem considerações de indumentária, sugerem a aquisição de calças, de ténis, riem-se. Ao certo, juro que não sei sequer se dá para medir a felicidade, contudo, se der, estas pessoas têm calças e ténis. Mas eu guardo um segredo silencioso no âmago - tenho a melhor namorada do mundo. De sempre. Mesmo a sério.
Consequentemente, a minha felicidade é maior. Melhor, mais completa. Leio livros, ouço discos, vejo filmes, saio, bebo cafés, vou tendo amigos tão bons e com quem tenho e troco tudo de tão valioso. Mas tenho a melhor namorada do mundo. E até podia ser "só" isso.

sexta-feira, junho 15, 2012

era uma vez uma enguia chamada Josefa (era uma vez uma menina chamada ____)

seria bom não sermos todos tão complicados, embora seja bom que sejamos complexos. é tão irritante que só consigamos ser "normais" naquilo que não faz realmente grande diferença, tão absurdos naquilo em que devíamos conseguir funcionar.

(um segredo: sempre que, por bengala linguística, por bordão de expressão oral instantânea, dizes "meu" numa frase, imediatamente se processa em mim a resposta "sim, sou teu".)

sexta-feira, maio 11, 2012

coisa mais ao jeito de blog a sério

Ontem houve um senhor do Senegal que, depois de percorrer todo o espaço onde me encontrava, tentando vender produtos "típicos" aos veraneantes da noite lisboeta, nas esplanadas do Holmes Place, sitas na Avenida da Liberdade, e sendo muito mal sucedido, decidiu que me devia simplesmente meter uma no pulso esquerdo e pedir-me um euro. Uma vez que eu não tinha um euro, o cavalheiro fez-me só um "fixe", com seu polegar assertivamente erguido na mão cerrada, esboçando um sorriso e dando a informação de "não há problema, eu dou-te isso, é do Senegal." Portanto, tenho, hoje, mais uma pulseira. Que é do Senegal. E é feia. Mas representa qualquer coisa e, por isso mesmo, estimo-a. Olho para ela e ainda me alegro um bocadinho, por saber que, mesmo que toda a gente me odeie e me ache doente e disfuncional, há sempre pessoas que procuram para lá da minha antipatia e atitude anti-social (ex.: a música estava alta demais, e consistia em batidas electrónicas e remixes, "coisas felizes e luminosas, para se dançar", e havia demasiada gente, portanto, pus os meus auscultadores anti-ruído externo, liguei o leitor de mp3 nuns Sonic Youth e sentei-me sozinho numa mesa, não indo dançar, não indo saltar, não indo "conviver" nem rir nem piscar o olho nem tentar "conhecer" pessoas).
As meninas interessantes da faculdade podem não querer saber de mim para nada, porque engordei, com a idade, porque não me penteio, porque tenho barba, porque não tomo drogas, porque não toco em nenhuma banda indie, porque não faço desporto e abomino quase toda a gente que o faz, porque não sou um animal social com mais de 50000 contactos em redes sociais ou porque não cumprimento toda a gente que conheço, de os ver. Mas, apesar de tudo, ainda há senhores que, vivendo no limiar ou para lá do limiar dos padrões estúpidos do social, me percebem e vêem que eu valho a pena. Apertam-me a mão de forma sincera. Olham-me nos olhos. Dizem-me coisas com os olhos. Dão-me carinho com os olhos e sabem que eu sou uma das melhores pessoas do mundo. Apesar de tudo, as pessoas de quem nunca ninguém gosta, por "este" ou "aquele" motivo, percebem que há "qualquer coisa" em mim e não fogem. E, apesar de tudo, em certos - cada vez menos, é claro, mas... - sítios, em determinadas ocasiões, ler e ouvir música e fumar e beber de cabeça baixa, não ligando muito ao que se passa em torno (ou dando a entender que não, quando, na verdade, vejo e apercebo-me e observo tudo, ao pormenor), ainda vai chegando para que algumas pessoas desencantem dentro de si um encanto, ainda que pequenino, às vezes, mas um encanto, ainda assim, por mim.
Não desisto, embora doa. Assumi-me assim, e assumo-o até ao dia em que deixar de o ser, se algum dia o deixar de ser. Só sou. Sou. Muito. Intensamente. Sempre. Sem desistir, sem desesperar, sem deixar de esperar activamente uma coisa de que preciso. E sei (sei!) que querer amor, querer dar amor e receber amor e viver de amor não é doente nem doentio. É bonito. E faz bem ao que somos e não é físico e externo. E ao que é físico e externo, também.

terça-feira, abril 24, 2012

anúncio

perdoem-me aqueles para quem isto é uma traição à imagem fiel que fazem de mim - e que deixei que fizessem, que quis que fizessem durante tantos anos -, mas há coisas que mudam. apesar de tudo, há coisas que mudam, senão não se sobrevive.
tenho ainda um espaço de vida muito curto - uma deslocação no espaço muito curta, ocupa pouco espaço no tempo - mas estou demasiado enfraquecido. há quem se salvaguarde antes e não viva nada, depois. eu vou vivendo, mas, como não tomo as precauções que seriam necessárias, ao princípio, tenho de as tomar no fim. não se assustem, aqueles que me tomam pelo "eterno apaixonado", que fica anos e anos a sofrer pela mulher que amou. isso ainda é o que se passa. há é outra coisa que se passa, por cima disso, por cima do essencial. antes de mais dá-se que no pouquíssimo espaço de tempo que a minha vida tem, toda a sua história podia ser contada através de sofrimento por mulheres. e, como é sabido, todas as pessoas atingem o seu ponto de saturação. o meu é este. foi este, há uns tempos atrás. claro que continuo a sofrer e a angustiar-me por causa das últimas mulheres que amo/amei. claro. mas mais vale fingir que respeito as suas decisões - a meu ver, estúpidas e mesquinhas - de me deixarem, de me abandonarem. que posso eu fazer, senão "respeitar" isso? "aceitar" isso? não tenho propriamente palavra a dizer, não sou, nunca quis ser, nunca sequer me propus ser dono de ninguém. é a escolha de uma das partes, a parte que decide, que escolhe - a escolha nunca me coube nem cabe a mim, é um facto a que já me habituei há anos. respeito, finjo que respeito, aceito, que remédio, as suas decisões. e obrigo-me a sentir aliviado, "livre", sem o "peso" de vários factores. e, depois, tento enganar e vou conseguindo enganar o meu coração doente e deficiente com outras pessoas, com as quais isto nunca vai dar em nada, mas ao menos dá para ir tendo umas dorezitas mais pequenas, uns encantos mais pequenos, com que distrair o vazio do amor.
chamem-me nomes, se acharem que é isso que mereço. isto continua igual, só tem um mecanismo de salvaguarda a operar à superfície.

segunda-feira, abril 23, 2012

cê cedilhado

sobretudo não deixar de te amar, porque não dá. diz-se muitas vezes que "quando isto é a sério, não dá para desligar" e nós, que não lidamos bem com frases feitas, ficamos irritados, pensamos imediatamente que talvez até dê, tem de dar, caramba! mas não dá, nunca dá. podes afastar-te, se achas - se sentes, acima de tudo - que é isso que deves fazer, que é isso que devemos fazer. onde quer que estejamos, por mais longe que fiquemos, ao menos aqui vou dizendo que gosto mais de ti, hoje, do que ontem. aqui, querida, posso-te chamar de "meu amor". o que guardas, o que tens, o que dás só por seres "assim", só por seres isso tudo, só por seres a [inserir nome], que és, é imenso, é indizível. e amo-te, lamentavelmente, ou não. há dias em que não, sabes? há dias em que vale a pena amar-te só porque sim.

terça-feira, abril 17, 2012

lagostim

(tudo faz tanto ruído, em certas alturas, era melhor que se resumisse a essência das pessoas a qualquer coisa como um casaco, estar aqui sozinho, nunca ter conhecido outra forma de estar, toda a gente ter sido gatos, cães, periquitos, um cágado. não me doer a cabeça, não me doer o coração, poder comprar gelados e bolos em pastelarias desertas, muitos milénios depois de toda a gente ter desaparecido. não ter tido o convívio com o roncar dos aparelhos de ar-condicionado, com os olhares dos outros a não me deixarem chorar, sempre aquela peninha, aquela compaixão, mas sem nunca me virem abraçar, sem nunca me oferecerem um cigarro, e assim.)

segunda-feira, abril 16, 2012

s

(tudo devia ser tão fácil. pedem-nos dinheiro, pedem-nos comportamentos sociais, uma consciência, uns valores, aqui e ali. e complicamos tudo, e, sobretudo, angustia-me ainda mais que quase toda a gente se vá contentando com a "segurança", em vez de procurar, de facto, a felicidade, porque a felicidade pressupõe uma exposição e uma fragilidade.)

não te vás embora, pode ser?

sexta-feira, abril 06, 2012

m

Sinto, por vezes, que devia sentir a tua falta e, nessas ocasiões, sinto-a. Não é que goste mais de quem quer que seja de quem esteja a gostar, agora (a amar, é o verbo acertado), do que gostei (amei, é o verbo certo) de ti. É só que complicámos tanto as coisas que, infelizmente, em certas alturas nem sei bem o que foi que tivémos. Gosto de pensar que foi bom, mesmo esta coisa mais para o final, que se arrastou tanto tempo (e a culpa de não o ter sabido ver mais cedo foi inteiramente minha), em que provavelmente te amava sem que ainda me amasses, já. Ou amavas, sim, de uma maneira própria que, no meu egoísmo, não consegui ou soube ver.
Não adianta de nada lamentar as coisas, dizem-me, "não há volta a dar", "estás melhor assim". Todos os dias tento convencer-me disso. Que se trata de um desígnio universal, um alinhamento cósmico, uma espécie de destino. Fui feliz contigo. Por isso arrependo-me. Todas as coisas bonitas que te disse eram verdade de todas as vezes em que tas disse. Tens música e poesia em ti. És linda. 
A sério, deixem-me arrepender disto... por favor. Poupem-me às considerações muito correctas da racionalidade. Eu amei uma pessoa que tocava violino e cantava. Que me comprava xaropes e comprimidos quando eu adoecia. Que me fazia companhia em casa, numa casa que já nem sequer existe, para mim. Mas foi a minha casa durante dois anos e pouco, albergou-me a mim e a um amor tantas vezes doentio, doente, mas um amor.
Há dias em que chove e me canso de ser assim, julgo que seria melhor livrar-me do amor de uma vez por todas, não conhecer mais mulheres, não falar mais com mulheres, não as deixar aparecer na minha vida e fazerem, sem quererem, sem o saberem, com que me apaixone por elas. Ainda sinto que tenho tempo e que há pessoas que valem a pena o meu investimento emocional, mas cada dia que passa a minha paciência decresce, inversamente proporcional ao que sinto em relação ao tempo que tenho para as pessoas que valem a pena.
Ainda sinto que tenho tempo e por mais que queira que isto não fosse assim, há sempre uma mulher a seguir a outra, que me prende e a quem preciso de me prender e desperdiçar mais uns meses antes de ponderar seriamente desistir disto tudo, ou até (que às vezes calha) essa pessoa decidir ficar comigo durante uns tempos, nunca correspondentes ao sempre que eu queria de todas as vezes.

quinta-feira, março 01, 2012

comunicado

preciso de um grupo de pessoas que queiram fazer qualquer coisa. que existam e que insistam, comigo, em qualquer coisa. porque isto é cansativo. o estado das coisas. e uma pessoa não aguenta o tempo todo cansada. preciso de me mexer. de criar coisas. ter um grupo que crie coisas. que fale de poesia e de ficção "pós-moderna", contemporânea, avant-pop, super pop, sonasol, fairy, omo, skip, chamemos-lhe o que quisermos. que, por favor, tente sair dos moldes. que saia para tascas e arrote alto e preze os seus amigos pedreiros e mecânicos que choram, à noite, como qualquer destes intelectuais. que não se rale em se "mexer pelos círculos" e "fazer connections" para vergar o rabinho, baixar as cuecas perante os "senhores que interessam" (mesmo que os senhores que interessam sejam tão conhecidos quanto eu, em Badajoz, quando vou comprar caramelos). vamos fazer sessões de poesia e música for art's sake alone, sem os usuais motivos ulteriores de engatar pessoas. abraçar a marginalidade a que estamos votados (e auto-votados, também). eu tenho planos. planos para nós. e quem vier será bem-vindo.

lentamente, ainda sem existirmos, estamos a mover-nos.