terça-feira, dezembro 30, 2003

Pesam-me os olhos de cansaço e de sono.

Sinto que, às vezes, esperam coisas de mim que jamais poderei dar. Os amigos, os menos-amigos e, sobretudo, os outros.
Sinto-me cansado de tentar corresponder às expectativas, e não poder fazer as coisas como me apetece, na realidade... olhando para trás, há muito poucas coisas na minha vida realmente dignas de um pensar sobre elas. Sim, creio ser esta a verdade dos factos.
Tornamo-nos pessoas absurdas e desinteressantes, com o tempo... eu tenho noção de que me tornei nisso, pelo menos. É-me difícil manter uma conversa com quem quer que seja, durante um tempo considerável, pelo menos versando sobre um qualquer assunto que a ambos interesse.

Muitas vezes, surgem-me pessoas, pessoas do meu passado e do meu presente e até pessoas que tentam, não imagino porquê, imiscuir-se no meu futuro. Tudo isto me pesa na consciência, e olho especialmente as pessoas que surgem na minha vida, vindas do meu passado, pois essas querem-me dizer qualquer coisa que um fundo de mim rejeita. Surgem-me agora de carta de condução tirada, de penteado novo, de roupa nova, às vezes julgo ver, no seu olhar, que a sua própria essência mudou. Simplesmente, vêm sobre mim e matam-me, em açoites, sem saberem que não consigo ficar feliz por eles, porque, de verdade, não me espantam e não são mais as mesmas pessoas que foram, podendo assim concluir que estas pessoas que me surgem são estranhos, ainda que surjam de um passado, remoto ou próximo.

Creio que a causa para tudo isto seja, num animal reconhecer, o mais básico dos ciúmes humanos. Será inveja, talvez. Um olhar para tudo e ver que todas as coisas à minha volta crescem e evoluem, e eu próprio, atrás de uma parede - dentro de uma parede -, estagno e crio raízes que me custam cortar. À custa disto, a minha vida morreu. Digo-o, consciente do facto da verdade que tal afirmação encerra.

O facto, na sua essência, é que eu tenho medo. Reparo que tudo isto se deve a este ciúme de tudo, porque fui talvez eu quem criou esta ideia auto-protectora de que preciso de controlar as coisas, para ser feliz.

Não sejas assim, Pedro... olha que, um dia, vira-se o feitiço contra o feiticeiro...! Cresci a ouvir isto. É cansativo. Não sejas assim, Pedro! Não sejas assim! Por mais que se queira ser forte, é difícil resistir, quando passam uma vida toda a repetir-nos, aos ouvidos, que não devemos ser assim, que somos peças com defeito, que fazemos mal aos outros, sem pensar nas consequências. Sei que me vitimizo demais, por vezes... sei disso. Mas é um mecanismo como outro qualquer... mais um botão de auto-defesa, uma carcaça plástica, sob a qual me enfio todos os dias, à espera de ser forte e aguentar que a vida dói e pesa e custa.

É também um falso consciencializar-me de que alguém, além de mim, irá ler isto e, de alguma forma, partilhar alguma coisa comigo... e voltarei, de quando em vez, a este sítio, deixar bocados de mim em forma de letras e palavras e frases, pensando acreditar que outras pessoas leram as minhas mãos e os meus olhos, os meus dentes e os meus lábios e as minhas lágrimas...

Parto, de novo...

1 comentário:

Anónimo disse...

Não existe uma única palavra deste texto com que eu não me identifique...e tenho agora a idade que tinhas quando o escreveste, não sei porquê, também me conta muito...nem sequer dá para explicar porque é que me identifico, porque dizes mesmo tudo, sinto a minha vida assim, demasiado de mim está nesse texto também... amo-te...