segunda-feira, março 01, 2010

em certos dias não há é pachorra

Gostava que as coisas fossem do seguinte modo: eu encontro uma rapariga bonita. Às vezes muito bonita, mas isso não vem ao caso. Acerco-me. Digo-lhe: "és bonita, gosto de ti" e o que devia suceder em seguida era essa pessoa apaixonar-se perdidamente por mim, que dizer qualquer coisa como "és muito bonita" fosse o gatilho de uma paixão avassaladora, que não terminasse nunca, e com direito a conversas sobre James Joyce e Herberto Helder e, obviamente, Boris Vian, noite dentro, com direito a sexo conforme nos apetecesse, a pequenos-almoços em pequenos cafés que só duas ou três pessoas conhecessem, a viagens de autocarro e comboio por esse país fora - porra, por esse mundo fora! E essa pessoa também escrevia e líamo-nos e admirávamo-nos um com o outro, éramos um alimento mútuo que não se esgotava, éramos uma espécie de energia alternativa existencial um para o outro.

Mas, infelizmente, se digo a alguém "és muito bonita", o mais certo é a pessoa assustar-se. Pelo menos há-de estar ocupada com um tipo qualquer que nunca sonhou nada disto para eles os dois, sem sequer a conhecer de lado nenhum.

5 comentários:

Sandra disse...

parece-me viável acontecer, eventualmente (se acontecesse de cada vez, não seria assim tão especial).

aquelabruxa disse...

mas já experimentaste? já te disse antes que a coragem vai muito longe! eu passo a vida a fazer isso, às vezes resulta outra vezes não. às vezes arrependo-me outra vezes não. lol
aliás, passava a vida a fazer isso, de vez em quando ainda faço, com gajas... lol

aquelabruxa disse...

tu devias era viver em amesterdão... o teu potencial desperdiça-se (que palavra estranha) aí por óbidos...

Mortir disse...

É uma chatice que não seja assim mas, na verdade, seria uma chatice se fosse assim, também.

groze disse...

Da forma como imagino não seria chatice nenhuma... bastava acontecer uma vez. Depois, podia voltar a ser da forma normal.