segunda-feira, outubro 13, 2008

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[...]

Ficas toda perfumada de passar por baixo do vento que vem
do lado reluzente das laranjeiras.
E crepitam-me as pontas dos dedos ao supor-te no escuro.
Queimavas-me junto às unhas.
E a queimadura subia por antebraço e braço
ao coração sacudido. Eu - perfumado
e queimado por dentro: um laço feito de odor
transposto, ar fosforescendo, uma árvore
banhada
nocturnamente. Tudo em mim trazido
súbito
para o meio. Quando este saco de sangue rodava
defronte da abertura
prodigiosa.


Herberto Helder in Ou O Poema Contínuo, Lisboa, Assírio & Alvim, 2005



Este texto foi aqui colocado como uma coisa que eu queria oferecer a uma grande Amiga. Su, é para ti.

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