quarta-feira, maio 13, 2009

A Mulher Fatal

Rebobinas o ensejo
Do tempo da vitória
E porém não nos vejo
Eu e ela numa história.
Não mais do que dois bites
De pureza e ametistas:
Corrupção sem limites,
Impulsos solipsistas.

A fazer roda viva
De inocência sem mente,
Pra seres atractiva
E mundo mais fluente,
Recebi-te essas prendas
De um dolo vertical
E atrás de velhas rendas
Um fácil natural.

Certo, a música é bela
E a pusia excelência,
Mas ambas a prequela
Da tua impertinência.
Dir-me-ás outra vez,
Ou não digas sequer.
Não importa o que dês
Por algo que eu quiser.

Por que haveria em mim
O nojo delirante
Do teu final com fim,
Cara rota do instante?
A lindeza que é calo
Nos olhos do convém
Sumiu-se pelo ralo
Ou dilui-se no bem.

Não obstante esse grão
De belo e óleo de palma,
Não achei de esbarrão
O teu corpo como alma.
Foram novas as barcas,
Nem assim menos várias:
Chanterelas, cilarcas,
Míscaros e lactárias.

Por quanto de mim saia
Para a nudez de ser
Contigo, alma querida,
Não sou a tua vida
Onde a língua de prata
Não ata nem desata.
Esquece essa garvaia
De unir cegueira e ser,

E, enfim, vai-te foder.


Artistas Congregagos, in In Love With Arquimedes, Briefly & Vária, Publicações Pena Perfeita, 2006

1 comentário:

aquelabruxa disse...

que fixe!