sexta-feira, outubro 02, 2009

CCC, Caldas da Raínha, 14:47

Dói-me a boca e estou aqui sentado com a minha camisa cinzenta a cheirar a whisky, a olhar para uma jovem lá fora, sentada na esplanada, a pensar o que é que ela ia achar se eu chegasse ao pé dela e lhe dissesse "olha, acho-te mesmo muito bonita." E acho. Ela trabalha aqui e eu venho, confesso-o, muitas vezes a esta sítio só por causa disso. Chama-se Patrícia. E não sabe que eu existo.
Tenho sangue na boca e isso não me agrada, mas não me apetece estar a pôr uma das compressas que a dentista me deu, porque me vomito todo. Sou um fracote, é verdade, oralmente falando.
Gosto das Caldas por ser (serem? A concordância em relação a este sítio é uma coisa muito complicada, para os locais, saiba-se) uma cidade feia. Os prédios, vistos daqui, são feios, e o planeamento urbano não foi bem feito. Não é uma cidade grande, como Lisboa, com as partes antigas típicas de uma cidade grande. Toda a cidade das Caldas é antiga com prédios novos pelo meio, muitos deles bem feios e desproporcionados. Mas a verdade é que, se as Caldas não fosse (-em?) assim, tanta gente que mora aqui e escreve e pinta e desenha e estuda e toca e vive não era como é. É graças a barzinhos como o Trinca Espinhas e o Demodée e o Dejà Vu e o Apache (que já foi bar de skins, caramba!) e o Joyce e o Charrua, a pastelarias e cafés como o Machado e o Central e a Puzzle e o café do CCC e o Chá de Limão e a Pituca e o Prova dos Sentidos, sítios como o Prédio Verde (arte nova) e os Pavilhões do Parque e o antigo casino e o Hospital Termal e o Parque D. Carlos I e o Museu Malhoa e o Museu Barata Feyo e a ESAD e o CCC e a estação de caminhos-de-ferro, sei lá, por causa da especificidade toda das Caldas, que isto é como é e as pessoas que realmente são de cá gostam tanto disto. E se eu escrevo como escrevo é porque sou de cá. E se amigos meus pintam como pintam é porque são de cá. E se amigos meus tocam como tocam e gostam da música que gostam é porque são de cá. E não trocávamos este adubo cultural tão específico por nada. Porque Lisboa é Lisboa. Mas Coimbra também é Coimbra. E Leiria é Leiria (e, a meu ver, Leiria é factualmente uma merda). E as Caldas é? (são?) as Caldas. E, obviamente, traria para aqui os meus amigos todos, e desperdiçaríamos os nossos dias sentados num café e mais tarde num bar a falar de música e de filmes e de livros e de poemas e de mulheres e de homens e de vinho e de queijo enquanto, devagarinho, a rapariga de cinzento (e de vez em quando de roxo), que encontro no Trinca Espinhas, e esta empregada do CCC se apercebem que eu

estou aqui. Ok?

P.S.: pelos vistos, também estão aqui uns actores quaisquer, que devem estar aí com uma peça. Um deles é actor de cinema e televisão, mas não sei o nome do marmanjo. Mas andaram aí umas meninas com ar entre o agradável e o repugnante de volta dele, exigindo autógrafos.

5 comentários:

aquelabruxa disse...

eu omitiria o artigo definido: gosto de caldas por ser uma cidade, se caldas não fosse, e caldas é caldas.

groze disse...

Grande parte da piada é eu saber que isso seria muito mais fácil, assim, mas preferir estas paneleirices todas, que fazem com que seja uma situação de cocó. Hahaha!

R.Joanna disse...

Estes ataques a Lisboa estão a sentir como cada vez mais pessoais. Para que conste, eu sou do Trigache, que se situa a Pelo Menos 35 minutos da cidade de Lisboa!
Mas vê lá se é preciso publicar também um texto a defender publicamente os alfacinhas, oh mouro.

groze disse...

Este nem era bem um ataque a Lisboa... era só um elogio às Caldas. Aliás, eu gosto bastante de Lisboa, e não é minha intenção atacar a sua alegada integridade.

aquelabruxa disse...

mais de xixi...