quarta-feira, agosto 26, 2009

Barra de Aveiro: Um Agosto

Começam a morrer os últimos pianos do século
arrefece o estio na cabeça
agora almoço e já cai o crepúsculo
esse que me fugia por aí esse tempo

o mesmo rio não se contempla duas vezes no rosto do homem
debruçado fumando no molhe do marégrafo
a mesma Barra de Aveiro não é a mesma
o engenheiro Oudinot sentiria um aperto de coração idêntico

tive todas as alegrias e melancolias assim dito por alto
próprias das idades sucessivas mas nenhuma
que iludisse deveras a velha constatação jónia
cada gesto de mão é sempre um outro

nem sou sequer quem muda mas um outro


Fernando Assis Pacheco, Cinco poemas postos no correio para o Arauto de Osselôa onde afinal não se fala apenas da morte, esse mau passo - Memórias do Contencioso (1980), in A Musa Irregular, Lisboa, Assírio & Alvim, 2006

3 comentários:

aquelabruxa disse...

podia ter sido escrito por ti...

sabes que lisboa, quando eu nasci, se escrevia com acento circunflexo no ó?

groze disse...

Quando tu nasceste já não era assim, as pessoas ainda não tinham era todas passado para o acordo actual. Que será o que sucederá em 2013, quando entrar o novo acordo (que eu ainda tenho esperança que seja recusado).

aquelabruxa disse...

2013?? estou lixada!! já comecei a escrever de acordo com o acordo, não consigo esperar mais! toda a gente vai achar que eu escrevo com erros ou que sou brasileira ;)

sim, é verdade, acho, foi a minha avó que escreveu lisbôa na minha cédula de nascimento... que linda!