sexta-feira, agosto 28, 2009

mais amargura cinematográfica

Há filmes que, quando saem, sejam bons, ou não, geram sempre demasiado hype em seu torno, e isso faz, à partida, com que eu me desinteresse bastante por eles. Na verdade, isto acontece-me com tudo, ou quase: a menos que tenha mesmo uma paixão tremenda por alguma coisa, se muita gente gosta, a minha tentação é recusar e maltratar uma coisa. Obviamente que sei que este meu espírito nada empírico, que recusa uma coisa à partida, só porque sim, é obsoleto e, bem, basicamente, estúpido, mas reconheço que me sinto bem assim, e não me parece que tenha perdido nada, ao longo da minha vida, por ter assim esta atitude extrema em relação às coisas. Ora, sucede que esse deus do cinema "de autor" (bendito termo para designar um cinema que é visto maioritariamente por uma certa e alegada elite cultural, ou minoria social, ou, simplesmente, cinema que supostamente tem qualidade e é dirigido a um público supostamente menos amigo do comercial e do convencional), que é Quentin Tarantino, sempre que lança um filme, é um nunca mais parar de críticas positivas, que, enfim, lá terminam, passados uns meses, quando toda a gente se apercebe de que, afinal, os filmes não eram assim tão bons como a crítica fazia parecer. Mas também ninguém desmente, porque, se é um filme do Tarantino, por menos excelente que seja, é sempre bom. Frise-se sempre. E também se dá que recentemente saiu o seu filme Inglorious Basterds, uma ficção passada por alturas da Segunda Guerra Mundial.
Para ser franco, os únicos filmes de que gosto mesmo, feitos por esse cavalheiro, são o Reservoir Dogs e o Pulp Fiction. E sei bem do risco que corro ao afirmar isto, "ai, tem a mania que é pseudo-alternativo, só gosta dos filmes originais dele", mas não me interessa mesmo nada que pensem isso. Só gosto desses filmes dele, pelo menos a 100%. Não gosto da saga Kill Bill, não acho piadinha nenhuma à Uma Thurman, e francamente, quando a única coisa que fazemos é imitar géneros e colá-los uns sobre os outros, na secreta esperança de criar algo novo, como faz o Tarantino, a coisa acaba por sair, vá, com uns momentos de inspiração mas, em última análise, um fracasso. Muitas me pessoas me criticam por gostar imenso dos western spaghetti do Sergio Leone, mas o seu caro Tarantino também alega que Leone realizou aquele que é, segundo ele, o filme mais bem realizado de sempre (O Bom, O Mau e O Vilão). A verdade é que, sim, vêem-se influências de Leone nos filmes do Tarantino, mas acho que vai ser sempre uma péssima imitação. Posso estar enganado, mas sinto sempre que o Leone era "puro" nos seus desígnios; o que pretendia era criar a suprema forma de arte visual no cinema, coisa que é visível na sua trilogia dos dólares, que culmina, precisamente, com O Bom, O Mau e O Vilão, trilogia onde aborda quase sempre os mesmos temas, cria imagens muito semelhantes e vai praticando uma "evolução" de cinema. Mas o Tarantino, parece-me a mim, quer fazer filmes porque, na verdade, se sente bem no seu papel de realizador "de culto", e gosta da atenção que lhe é dada nesses meios underground (ficou, por exemplo, irritado de o Inglorious Basterds não ter ganho o prémio de melhor filme em Cannes, porque achava que era merecido).
Não vou ver o filme porque estou cansado do movimento pró-Tarantino, e porque estou farto de filmes de guerra (mesmo que ele alegue que o filme não é um filme de guerra, é o seu western spaghetti com iconografia da Segunda Grande Guerra - inserir riso sarcástico da minha parte, em resposta a esta afirmação do querido Quentin), mesmo que sejam filmes de guerra ficcionais e não baseados em factos históricos (que estes filmes mais "históricos" conseguem ser, proporcionalmente, ainda mais chatos), porque acredito que o filme, embora diferente, me vá deixar a sentir o mesmo que os Kill Bill: um exercício medíocre de cinema, com flagrantes plágios visuais e "espirituais" de Leone e outros, que, ocasionalmente, tem o seu momento de inspiração (também, copiando e colando de tanta gente boa, alguma coisa a roçar a genialidade haveria de sair, num minuto ou outro). Ah, e reitero: digo isto sem ter visto sequer um trailer do filme, é a minha opinião visceral sobre o homem e o seu cinema, só isso, aliada a informação que fui lendo por este maravilhoso mundo que é a internet. E, já agora, aproveito para dizer que também acho que fazem falta mais pessoas com opiniões tendenciosas "só porque sim", porque isto anda tudo demasiado politicamente correcto.

10 comentários:

aquelabruxa disse...

lá nisto (e foda-se, temos de ser parecidos e concordar em alguma coisa, senão não éramos amigos, right?) sou parecida contido. sabes que só o vi o pulp fiction (no cinema, admita-se) uns seis meses depois de ter saído, quando uns amigos meus foram ver pela segunda vez... é uma espécie de virús anti-hype de que sofro.
o meu irmão telefonou-me anteontem ou isso a perguntar: o que é que a manhinha tá a fazer em casa? porque é que não está no cinema a ver o inglorious basterds?
mas eu já não confio no meu irmão, ele disse-me que o dark night era o máximo, e eu achei uma seca. e o filme preferido dele (ou no seu top 5, digamos) é o bom, o mau e o vilão... bah...

aquelabruxa disse...

maninha

groze disse...

O Dark Knight é uma treta. E só tem a atenção que tem porque o Heath Ledger mnorreu depois de o ter feito, porque, enfim, não é um mau filme do Batman, mas de certeza que não é melhor do que o antecessor, o Batman Begins... e, desculpem-me os senhores, se não sou sensível à morte do Ledger, mas acho que não se deve desculpar o facto de ele não ter feito um Joker por aí além, só porque esticou o pernil... o Jack Nicholson continua imbatível na representação de Joker no cinema, essa é que é a verdade.

Ah, e aproveito para dizer que o trabalho de caracterização no Dark Knight é horrível! O Joker é suposto ter a boca fisicamente deformada, o Joker do Heath Ledger limita-se a pintar um sorriso com baton... que se foda, é o que te digo. Boquinha normal, ali debaixo, ainda por cima o gajo quando está sério ficava com um ar mais triste e deprimido do que eu, e era suposto o Joker ter sempre o sorriso doentio estampado na cara, devido a ter os músculos deformados. Mas, pronto, isto são paneleirices cá minhas, que sou muito nerd e vivi demasiada BD na minha infância e juventude.

Quanto a'O Bom, O Mau e O Vilão: esse, sim, vê! O filme é genial. Toda a trilogia dos dólares, onde o filme se insere é uma maravilhosa obra de arte visual, se gostares de De Chirico e de Magritte, faz um favor a ti mesma e vê pelo menos um dos três filmes dessa trilogia.

aquelabruxa disse...

lol, já tentei ver essa trilogia, mas não consigo interessar-me.

groze disse...

Pronto, também percebo que não se possa agradar a toda a gente! Hahaha! São westerns, não é um tipo de filme propriamente para todos. São filmes de acção, e o argumento não prima pelos pensamentos sociais ou filosóficos. Mas o que faz deles filmes espectaculares é a cinematografia, os planos, a fotografia, tudo a esse nível. É como se estivesses a olhar para um quadro em movimento o tempo todo, o homem fazia jogos tão fáceis de nos passar ao lado, mas que são tão "rebeldes", a nível de cinema, como fazer grandes planos seguidos de panorâmicas, ou vice-versa, ou até grandes planos E panorâmicas no mesmo plano. Lol! Mas, pronto, realmente não são filmes que eu imagine qualquer pessoa a ver, ainda por cima porque as pessoas têm o direito de gostar de filmes com uma história interessante: coisa em que, obviamente, estes westerns não se destacam.

aquelabruxa disse...

sim, realmente não gosto de westerns. isso que descreves lembra-me o "era uma vez no oeste", uma grande passadice, mas bom. grande plano da cara do gajo a olhar para o nada... grande plano do nada... grande plano dos olhos d mau do gajo... grande plano da cara da gaja... grande plano do nada outra vez... lol. e sempre aquela música pouco auspiciosa.

aquelabruxa disse...

pois... é do mesmo realizador.

R.Joanna disse...

Epah, aqui vai a minha opinião completamente tendenciosa: nunca vi O Bom, o Mau e o Vilão, quero ver, sim é uma falha, Mas - o Kill Bill simplesmente apela ao meu imaginário pessoal. E o Death Proof então nem se fala.

Opiniões discutem-se, ao contrário do que se diz por aí. Viva o Quentin

R.Joanna disse...

Mas quanto à febre do cinema, também gosto de me fazer difícil aos êxitos fáceis. Um exemplo extremo (do meu gosto de menina): esperei séculos para ver o Wall.E quando já ninguém se lembrava dele. E adorei. Mas poçra, nunca mais se calavam com o raio do filme!

whyme disse...

Finalmente fui ver o filme e não me desiludiu nadinha. Gostei. Muito. E confesso que gostei em especial da figurinha que é o Hans Landa, apesar de tudo de mau que representa. O Christoph Waltz deve-se ter divertido imenso a fazer este papel. E soube-me bem ver o Daniel Bruhl, a quem acho uma certa piada, confesso, e que sabe escolher os filmes em que entra. Só para partilhar ;-) beijinho