quinta-feira, setembro 03, 2009

retiro (mais ou menos) o que disse!

Pronto, sucede que, numa destas noites, nos apeteceu ir ao cinema e, nas míseras cinco salas do Vivaci das Caldas da Raínha só se encontravam filmes maioritariamente ridículos, nomeadamente: um filme cujo poster ilustrava um casal dentro dos padrões de beleza ocidentais contemporâneos, separado por uma parede imaginária, costas com costas, ambos segurando um coração de peluche; outro filme onde entrava o Chandler dos Friends - ou, se quisermos, o Matthew Perry - mas transformado em Zac Efron do High School Musical, para fingir que tinha 17 anos devido a uma maldição, ou coisa parecida; o filme dos G.I. Joe, que eu não quero ir ver, porque até gostava dos bonecos e o filme não me parece nada parecido com isso; o Up - Altamente (acho o título em português tão mau), que, por ser versão falada em português, me põe logo sem vontade nenhuma de ver (não gosto de ver filmes de animação em CGI/IGC dobrados para que língua for, que não seja a original), para além de que, pese embora gostar de filmes de animação, este me parece ser bastante aborrecido; e, enfim, o Inglorious Basterds traduzido para um "brilhante" Sacanas sem Lei. Estranhamente, tendo eu feito tanto escarcéu com o filme e com o Tarantino, das pessoas que ali estavam até fui o único a querer ver o filme. Provavelmente porque não vi ali gente interessada no filme, e porque, para ser franco, estando frente a frente com o poster do filme, gostei bastante do dito. Portanto, lá comprámos os bilhetes para a sessão da meia-noite e vinte, e fomos tomar um café para fazer tempo, visto ainda termos mais de uma hora de espera.
Claramente, antes do filme, eu ainda estava bastante irritado e receoso, sempre com o meu medo típico das coisas que são vistas e esperadas com tanta expectativa - o querido hype do texto anterior -, e a queixar-me do Kill Bill (qualquer um dos volumes), filme(s) para o(s) qual(-is) não tenho a mínima paciência, e o(s) qual(-is) acho estar(em) bastante abaixo da qualidade que toda a gente lhes reconhece. Para além de que não tenho a Uma Thurman em grande consideração, e muito menos se vestida de latex amarelo com uma katana e um capacete de mota.
Agora, acontece que, uma vez dentro da sala, decidi deixar de lado essas ideias todas, e simplesmente apreciar o filme. Dito isto, saiba-se que me deliciei como poucas vezes; o senhor merece o meu mais sincero pedido de desculpas: o filme é absolutamente genial. Mesmo. Se depois do Pulp Fiction o amigo Quentin só me fez foi desiludir, este filme vem voltar a colocá-lo nas minhas boas graças, sem sombra de dúvida.
Não vou estar a fazer sinopses do filme, porque obviamente já toda a gente que por aí anda saberá do que o mesmo trata (característica de ser uma coisa cheia de expectativa à volta, enfim), mas gostaria de falar das coisas de que gostei imenso neste filme, sobretudo a nível de cinematografia. Não é um filme com um argumento rebuscado, tem, com certeza, as suas referências obscuras ao mundo do cinema e às culturas francesa e alemã do período da Segunda Guerra Mundial, entre outras, mas onde brilha, onde se destaca, é francamente a nível das direccção artística, direccção de fotografia e cenografia. Já tinha dito que o homem reconhece que O Bom, O Mau e O Vilão é, provavelmente, o filme mais bem realizado de sempre - afirmação com a qual concordo em parte, já que o considero, pelo menos, um dos melhores filmes jamais realizados - e este Inglorious Basterds é, em tudo, uma homenagem aos western spaghetti típicos de Leone. Com as amálgamas de estilo típicas do Tarantino, é certo, mas sem aqueles exageros de "outros" (cf. supra) filmes anteriores dele. O filme é pesado, sem ser demasiado pesado, tem os seus momentos de "ligeireza", embora alguns deles sejam cómicos pela situação em si, e não pela tensão, que é nítida entre as personagens. Muita gente provavelmente acharia que o filme trata com demasiada dessa já referida ligeireza o tema do Holocausto e do nazismo, mas eu discordo. Vejo o filme como uma espécie de "vingança" do realizador sobre os nazis, um filme violento, um western de Segunda Guerra Mundial, onde, felizmente de uma forma soberbamente anacrónica, os nazis são castigados por todas as atrocidades que cometeram, num festim de sangue, balas e fogo que tem lugar no fim da película. O que acontece é que o caminho para lá chegar é sinuoso, e obviamente passa por momentos mais "cómicos", para fazer a viagem não custar tanto.
Também como Leone, Tarantino não se preocupa muito com o tempo de duração médio de um filme, à luz dos padrões de hoje em dia. O filme tem quase três horas, e o realizador leva todo o tempo que quer para contar a história da maneira que a quer contar.
Portanto, termino este texto a recomendar o filme a toda a gente que seja fã de bom cinema, com as devidas ressalvas, é certo, pois presumo que este filme não seja "O filme" para muitas pessoas, por variados motivos. Mas, para a maioria das pessoas que conheço (e até para aquelas que não gostam de westerns, nem de western spaghetti), este é absolutamente um filme a recomendar. E, claro, peço também desculpa por causa do texto anterior, todo ele composto de muita ira e variados sentimentos dessa índole.

Contudo, não retiro o que disse sobre padecer desta doença anti-hype. E certamente que existem filmes e bandas e livros que perdi, por causa disso, mas não me arrependo de forma alguma.

P.S.: é, claramente, um filme que aguardarei em DVD num futuro próximo.

6 comentários:

whyme disse...

Ainda não fui ver o Miguel Ângelo, mas no fim disto ainda estou mais curiosa do que estava :-p Bisous*

R.Joanna disse...

The plot thickens.

Qual não é o meu espanto quando vejo este post que logo se anuncia pelo prometedor título "retiro (ainda que mais ou menos) o que disse"!

Verdade verdadinha é que eu não estava muito interessada em ver o Inglorious Basterds, pelo menos não já. E agora estou mordida de curiosidade, como a whyme.

groze disse...

Ah, e não fiz nenhum comentário em relação à banda sonora, mas acrescento, aqui, que está ao nível do resto do filme. Muito... "morriconesca", aliás. Com uma ou outra deliciosa excepção.

groze disse...

Entretanto já revi o filme, e vi os créditos até ao fim. Hahaha! E há algumas músicas do próprio Ennio Morricone, daí a minha aparentemente (mais que) bem fundada associação.

aquelabruxa disse...

lol, doido!

aquelabruxa disse...

acho que há uma música dele logo no princípio. lá fui eu ver o filme ontem, sala cheia, ar condicionado népias, morri de sede todo o filme, a pensar em água mineral gelada e coca-cola gelada. os sotaques estão demais, foi o que me fez rir mais, sobretudo o do brad pitt e o do mike myers. também reconheci a voz do harvey keitel ao telefone a fazer de comandante que concordou com o acordo (não o ortográfico) final.