terça-feira, abril 07, 2009

Impressões d'Os Três Macacos


Confesso que, depois de ter visto A Valsa com Bashir há duas semanas, não pensei ver um filme tão bom assim tão depressa. Serei rápido na minha apreciação, e o mais certo é que me repita, já que noto que, por estupidez e casmurrice em me educar relativamente ao cinema, acabo sempre por dizer as mesmas coisas. Mas, vá...
Como todos os filmes que tenho visto no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Raínha (e já são alguns, estive ainda agora a contar os bilhetes, e já é um maço razoável), não é um filme fácil. Se calhar, comparava-o, no que à história diz respeito, ao Sügisball - indiscutivelmente um dos meus favoritos - já que as personagens, embora menos e mais exploradas individualmente, vivem num estado de apatia e conformismo que as leva a, como na fábula dos Três Macacos, nunca ver o mal, nunca ouvir o mal, nunca falar do mal. O filme está cheio de bonitas (ou perturbadoras, conforme o ponto de vista) metáforas visuais, como sejam as visões de um membro da família que morreu afogado num passado nunca realmente explicado, acompanhadas de um calmo e, passado uns minutos, bastante irritante som de água a pingar no que parece ser um recipiente. O filme é lento, tem uma cadência muito própria, e usa filtros de imagem sempre cinzentos ou creme, o que ajuda a acentuar a melancolia em que tudo está embebido. As personagens não são carismáticas, são, até, apresentadas numa sub-vulgaridade estarrecedora, na qual muito poucos espectadores se poderão rever totalmente. Ao contrário, por exemplo, d'A Valsa com Bashir, ou de Por Entre os Dedos, ambos filmes que também vi no CCC, ou, até, de um certo ponto de vista, Quatro Noites com Anna, Os Três Macacos não é um daqueles filmes a que possamos chamar de "um murro no estômago". É violento, e tudo isso, mas é simplesmente demasiado melancólico e "surrealmente real", para causar uma reacção instantânea, quando acaba. É mais como uma espécie de sonho subliminar, uma coisa que vai acontecendo devagar, mas que deixa, indelevelmente, marcas profundas.

Quem estiver interessado a ver um bonito, lento e poético exercício de cinema, a contar a história das estórias de uma família turca de classe baixa, é, sem dúvida, um filme a ver. Todos os que contarem com mais movimento, interacção, diálogo e, no fundo, mais coisas a passar, não é este o filme que devem buscar. Para quem estiver num ponto intermédio, ou para quem não entendeu nada do que estive para aqui a dizer, é de aconselhar, porque, dito simplesmente, o filme é soberbo.

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