terça-feira, março 24, 2009

Impressões d'A Valsa Com Bashir

Vi o filme ontem e, caraças!, é, absolutamente, uma obra de arte. Sob todos os aspectos. Para além disso, julgo que abriu os olhos a muita gente que ali estava sentada à espera de outra coisa.
Reconheço que ia com algum medo de que a vertente de "documentário" do filme fosse mais acentuada do que realmente é, e que isso me fizesse gostar menos do filme, mas, felizmente, essa parte é só uma outra maneira de contar a história - pessoal e colectiva - da personagem principal (o autor/realizador, Ari Folman, dá a entender que se trata de si próprio), a qual, conforme vai avançando na (re)descoberta do seu passado subconscientemente esquecido, se vai enchendo de imagens cada vez mais surreais, até terminar no realismo absurdo de uma filmagem vídeo "tradicional", de mulheres e mães palestinianas a chorar a perda das suas famílias, no meio de corpos massacrados.

Gostaria, além de recomendar, mais uma vez, este filme, a todos os que estiverem interessados em cinema de qualidade (mais uma vez, não se deixem influenciar pelo facto de a Academia ter nomeado o filme para os Oscares), deixar um pedido de deculpas, em nome de Ari Folman, aos senhores muito... "cultos", que estavam atrás de mim, a falar de correntes e estéticas culturais, que pareceram muito indignados pelo facto de o filme ser em hebraico, e não em francês e de, para além disso, todos os textos - legendas à parte - serem em inglês. Lamento, se nem tudo o que é cultura vem de França. Aliás, não lamento nada, estou a ser irónico, caríssimos. Já me começam a fartar esses linces ibéricos da cultura, que acham que tudo o que é de valor tem de, obrigatoriamente, ser francês...

3 comentários:

aquelabruxa disse...

que estupidez... hebraico é lindo! foi uma das razões que me levaram a ver o filme.

groze disse...

Eu não acho que a língua hebraica seja linda, mas, de qualquer forma, é o meio perfeito para transmitir a mensagem do filme, já que todo o universo é o de pessoas hebraicas a tentarem recordar o Líbano e as invasões. Logo, justifica-se que o filme seja em hebraico, nem eu esperava outra coisa.

Também me pareceu haver problemas no facto de o filme ser o ponto de vista israelita; é um bocado aquele estereótipo que as nossas "elites" culturais (ou assumidas assim, pelo menos) têm de que todos os israelitas/hebreus/judeus são uns monstros expatriadores, cujo único intento é promover a carnificina sem sentido pelos povos circundantes. Eu não concordo nada com isso, acho que não se deve fazer um povo pagar pelas escolhas ridículas dos seus governos; é a mesma coisa que dizer que todos os alemães são nazis, ou que todos os italianos são fascistas, ou que todos os russos são comunistas, e por aí fora. Generalizar e estereotipar são duas coisas que me fazem bastante confusão - embora, hipocritamente, ou não, eu também o faça num sem-número de ocasiões.

aquelabruxa disse...

claro, não fosses tu humano, todos nós somos preconceituosos, racistas, etc.
sempre me dei super bem com israelitas, são mesmo dos meus melhores amigos e amigas, desde há muito anos. são inteligentes e o sentido de humor deles é parecido com o nosso, sarcástico, embora eles sejam bem mais acordados que nós em geral. identifico-me imenso com eles, e com israel, não sei bem porquê, talvez alguma reincarnação...
sabes, eu e a minha amiga israelita com quem vi o filme, na altura, não gostámos, lol, achámos o filme uma seca, tipo: so the guy has nightmares... uh... who cares?
mas a animação é muito boa.