quarta-feira, setembro 08, 2004

Clockworking

Amanhã... hoje... é dia de ir embora, de partir, de deixar coisas que conheço e que amo e que tenho como seguras e certas para trás. Tempo de tentar ser feliz noutro lado qualquer... sim, como se tal fosse possível... passamos a vida a tentar partir e ser felizes noutro lado qualquer. Nunca seremos. Nunca temos as coisas que precisamos e não somos felizes por causa disso.

Nem me interessa divagar sobre estas coisas, todos sabemos como isto funciona.

Estou apaixonado por alguém, e essa pessoa não me quer.

É assim, talvez, que as coisas são, e não há nada que possamos fazer para as alterar...

Ou haverá? Até que ponto não nos refugiamos em "nunca haver nada a fazer", para, de facto, nunca fazermos nada? É o Amor esta força descomunal e descontrolada de que falamos? Ou dizemo-lo somente para que os outros tenham pena de nós e sejam nossos, inteiramente? Somos animais, e bem mais irracionais do que aquilo que pensamos.

Bem mais.

Não somos máquinas. As coisas não são assim porque têm que ser assim. E, cá dentro, vamo-nos convencendo que crescemos e que mudamos. E é nestas alturas que atingimos o limite irónico da nossa hipocrisia existencial.

Trabalho internamente para me alterar. Para não amar. Para não sofrer. Sim... porque sou egoísta. Somos todos, se o admitirmos.

Seremos? Quem sou eu, uma máquina numa engrenagem tão maior que isto que sei, para relativizar os outros todos nas minhas ponderações e dúvidas existenciais? Não somos todos únicos e diferentes? Singulares?

O meu Amor é singular. E está, está sempre e está aqui, enquanto for existindo, para uma pessoa que não o quer e não o toma. E não serei idiota, de sorriso plastificado, oculto atrás das minhas capas plásticas, a dizer que está tudo bem. Não está.

Odeio a indiferença e o não-estar em que vivo. Odeio-te e amo-te ao mesmo tempo, nessa atitude pendular de quem me leva tudo o que me dá.

Quem me dera ser uma correia que, num lugar qualquer, puxasse uma roda dentada nos teus músculos, querida...

Amor.

Sem comentários: