quinta-feira, setembro 09, 2004

É quase assim uma espécie mais de diário que outra coisa.

Hoje ninguém veio. Estou aqui sozinho, triste, tem sido normal estar triste, de há uns dias para cá. A verdade é que há alturas em que tudo parece ir mal. A vida profissional, a vida íntima, a vida social... tudo está mesmo muito mal, e não sei que possa fazer para que fique bem.
Estive na faculdade, ontem. Tive que ir um dia a Lisboa e vim de lá pior do que já ia. Não encontrei ninguém como precisava de ter encontrado. Ninguém daquelas pessoas representa ainda alguma coisa para mim, e concluo que aquilo que eu gosto em Lisboa são as pessoas que não vivem lá... colegas de outros sítios, os mesmos que me vieram visitar, e aos quais devo, ainda, por vontade mais do que por cortesia, uma visita recíproca. Lisboa está cheia de tudo, demasiado cheia. O ambiente é pesado, quente, e eu vou-me cansando disso. A vida alternativa não é assim tão alternativa... abomino os padrões e os grupos em que toda a gente se insere, os freaks, os punks, os neo-punks, os dreads, os rastas, os hippies, os góticos, os betos, os clubbers... guiados por revistas absurdas de teen folk, que gostam de separar pessoas como se fossem carneiros. E as pessoas como eu? Que vêm da província para a grande cidade, sem que na província haja esses conceitos, essas preocupações sociais todas? Onde é o nosso lugar? Porque é que temos de ter um lugar? Chegamos e inserem-nos numa das "tribos urbanas" acima descritas (com estas ou outras designações, consoante a revista que se comprou), como se fôssemos animais prontos a ser catalogados para abate, desprovidos na nossa própria individualidade e bolha de segurança. Aqui, é óbvio que há toda uma camada de jovens que imita a vida na grande cidade, como se a grande cidade fosse só aquilo assim, como eles vêm, a linha do Cacém, quando se chega a Lisboa, os graffitis espalhados ao longo das paredes das linhas férreas, a cidade dos piercings, dos bonés, dos fios e dos anéis, da droga, dos roubos, dos pretos, dos assaltos, dos espancamentos... é a Lisboa magnânima dos centros comerciais, o Colombo o Vasco da Gama o El Corte Inglés, é a Lisboa dos Armazéns do Chiado e das FNAC's, as FNAC's um local de passagem ao invés de um sítio onde verdadeiramente apreender arte e literatura e música. Há uma Lisboa escondida, para mim, mas cada vez mais me foge por entre os dedos, e quando penso que a encontrei, ela já não é a mesma coisa. Não é a cidade magnética de que um grande amigo meu fala, não é a cidade da noite... pelo menos, nos sítios frequentados, sempre tão opostos àquilo que Óbidos e Caldas da Rainha oferecem e eu acolho. Essa Lisboa escondida, para mim, a minha Lisboa por encontrar, vai demorando, e eu vou fugindo lentamente, a fugir da única coisa linda que a cidade tem ainda para me ofertar: o Amor.
Hoje reparei que tenho pensado demais numa Pessoa que foi muito importante para mim, mas agora é quase como se nem existíssemos... Setembro é o mês dela, e é impossível não me recordar das palavras que dissémos um ao outro, das coisas que vivemos juntos. E às vezes julgo que ainda a amo. E quando afirmo isto, assim, é quase um confirmar dos meus receios. Quase um forjar da verdade. Ou a verdade? A Verdade? Tenho ciúmes, ainda. Das pessoas que agora privam com ela. Das pessoas que riem e choram com ela. Mas a vida é assim, ou, pelo menos, convencemo-nos de que a vida é assim, para não sofrermos mais do que o suportável, se é que qualquer dor pode ser suportável, seja ela qual for. Talvez seja por me andar a levantar tão cedo, passo mais tempo desperto e penso mais nas coisas... não sei. Sei que me tento aguentar, mas não consigo.

Talvez hoje saia e beba. É um escape, como outro qualquer, mas é o que me faz falta, já que quem me faz falta não pode ajudar-me da maneira mais certa. E daqui a dez dias a cidade espera-me, com a minha solução guardada no seu seio, sem que uma chave abra esse cadeado e me dê paz, finalmente...

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