segunda-feira, setembro 13, 2004

Geração Rasca, Carrasca, Pindérica e Afins

Há coisas que nunca pensei vir a dizer, e, de entre todas essas frases gloriosas, abre-me os braços, no seu sofá de dentes amarelecidos, a fantástica e idiomática expressão "No meu tempo". Pois, é verdade... no meu tempo as coisas não eram assim. Pelo menos, não eram tão... pindérico-radicais (cf. Joana Martins Fernandes).
Agora, estamos todos na onda magnética da sensibilidade internáutica, todos somos fofos e queridos, amamos todos os amigos cibernáuticos num êxtase, falamos (teclamos, barbarismo linguístico imposto pela não tão lenta evolução do léxico) com uma linguagem infantil, que deita por terra anos e anos de pedagogia aplicada (pois...) aos nossos encéfalos nas cresces, jardins de infância, berçários, ATL's, OTL's e demais instituições do ensino pré-escolar. Substituímos os "s" por "x", não em nome da abreviatura, mas sob o signo da doçura e da fofura, da náusea que é o excesso de ternura verbal, aquilo a que Mark Sandman se refere, em Super Sex, como "sexy goo-goo baby talk".
É verdade que nós, anteriores a estes seres que agora surgem pelo ciberespaço, fomos os seus carrascos, sempre tão desinteressados de tudo, apostados seriamente em sermos os ninguéns de amanhã, completamente desprovidos de responsabilidade e da capacidade inerente àqueles que assumem os seus compromissos e resoluções. Modelos destes não interessam a ninguém, e, mesmo que interessassem... também nós, a geração "rasca", fomos e somos "rasca" porque houve uma geração (car-)rasca antes de nós, que não deu o exemplo, e mesmo que tenha dado, é a nossa natureza rebelarmo-nos ao exemplo dos outros, pelo menos até uma certa idade, pelo menos até àquilo que hipocritamente chamarei de "idade da razão", dado que, uma vez lá chegados, acontecem coisas como pensar em usar expressões como "No meu tempo", coisas que jamais teríamos pensado dizer em público; atingimos aquela fase em que reflectimos "Eh, pá... os meus pais tinham uma certa razão quando (situação variável e variada, dependendo do indivíduo e da vivência)". De qualquer forma, nós nunca empregámos expressões como "owa", e todas as suas variantes ("ówa", "oua", "óua", enfim, toda uma parafernália de palavras). É pindérico, e é triste, e ninguém parece fazer nada em relação a isso.
"Owa, pinxexa", dizia um amigo de minha precoce irmã, sem estar cônscio da minha presença no mesmo espaço. Sim, "pinxexa", outra coisa que só mesmo alguém muito desprovido de noção do ridículo chamaria a alguém. Ouvem hip-hop e rock, dance e trance e punk (PUNK!!! HA!), e depois usam expressões como "nina", "pinxexa", "axim", "fofuh" (blearch!), claro, meros exemplos de toda uma linguagem reveladora de alto nível de trabalho mental.
E, depois, a homogeneidade, tudo amigo, tudo uno e igual, as expressões iguais, ao ponto de falarmos com quatro deles e ficarmos sem saber exactamente se não foi tudo um sonho, ou um efeito da bebedeira (note-se: bebedeira com bebidas dignas disso, e não aquilo que eles usam, como shots manhosos e a bela da cervejola) que nos fez falar com a mesma pessoa quatro vezes, sob um pseudónimo diferente. Frases como "népia, pah, o meu pc tá uma beca lento", ou "olhah, já xprimentaxt o jogos10.com? é xlentx" são uma constante, neste novo mundo de fala retardada, e comuns a todos estes seres que alegam ser humanos e descendentes das mesmas pessoas que nós próprios (HAHAHA). Ah, a propósito do Hahaha... a forma como transcrevem a onomatopeia é completamente impensada, sendo que julgam bastar um "a" e um "h", aleatoriamente colocados, para descrever o acto do riso. O autor desde já informa que o "h" numa onomatopeia é geralmente aspirado, sendo que "Ha" é a forma correcta de escrever uma risada (aspire-se antes do "a"), uma vez que "ah" é uma interjeição, e, ainda que não o fosse, seria mais parecido com uma tossidela do que com uma gargalhada ("Arrrrrrrr").
Queria somente pedir o obséquio de pararem com esse tipo de fala, sim? No fundo, o que eu queria era exterminar-vos a todos, mas não posso, tenho que demonstrar respeito pelas convenções e acordos humanitários internacionais, e ficar quietinho, enquanto bestas desproporcionais em termos mentais arrasam o mundo com o seu pseudo-estilo in e nice e bem. Parem. Enquanto há tempo. Sim? Putos estúpidos.

N.A.: Ao referir-se a "putos estúpidos", o autor não pretende ofender as susceptibilidades de quaisquer possíveis leitores. De facto, refere-se aos estúpidos em geral, e não só aos putos, uma vez que este fenómeno alastra a pessoas de gerações anteriores à geração pindérica em questão. O próprio autor utiliza abreviaturas, quando no mundo cibernáutico, e o seu próprio vocabulário de prática utilização. Mas usa-os sem que se imiscuam na sua vida quotidiana, e até ciente do que querem dizer, e do quão ridículas parecem, adulteradas (ex.: LOL = Laughing Out Loud, adulterado de tantas e variadas formas, como, por exemplo, LOLOL = Laughing Out Loud Out Loud? Laughing Out Loud Out Laughing? Possibilidades intermináveis). Antes de usarem as expressões, o autor sugere uma certa humildade, uma vontade de se auto-educarem antes das coisas, para que REALMENTE saibam o que estão a fazer.
Assunto a debater em futuros posts.

1 comentário:

Maria disse...

criticas mas tu e muitos cederam aos "k" em vez de "q".
enfim.. criticamos no outro aquilo que nós mesmos fazemos. e sim estou a generalizar :P.